Dois dias após o resultado do primeiro turno da eleição, já é possível chegar a uma conclusão: na largada para o segundo turno, Bolsonaro está se saindo melhor do que Lula. Os apoios conseguidos até o momento pelo atual presidente têm sido muito mais contundentes do que os apoios que o petista está conseguindo.

O cenário é assustador. Bolsonaro tem conquistado apoios importantes mesmo tendo tido uma péssima atuação à frente da Presidência da República. A direita não tem vergonha de apoiar um candidato que teve atos desumanos durante a pior pandemia da história.

O mesmo presidente que imitou pacientes com falta de ar, que chamou a Covid de “gripezinha” e que disse que não era coveiro ao ser questionado sobre as mortes, agora consegue apoios fortes e que podem ser importantes na sua tentativa de reeleição.

O principal apoio que Bolsonaro conseguiu até o momento foi o do governador reeleito em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Minas é um estado decisivo e, como a coluna mostrou, o presidente quer virar o jogo contra Lula entre os mineiros.

Ao dar seu apoio a Bolsonaro, Zema foi contundente: “nós mineiros sabemos a tragédia que foi o governo PT. Por isso, apoio o presidente Bolsonaro no 2º turno dessas eleições. O trem tá no rumo certo e essa parceria é fundamental pra Minas seguir nos trilhos do futuro nos próximo anos”, escreveu em seu Twitter.

Durante pronunciamento em frente ao Palácio do Planalto nesta terça, 4, numa atitude que pode configurar inclusive irregularidade eleitoral por parte de Bolsonaro, o governador mineiro deixou claro seu apoio e aceitou vincular sua imagem à do presidente.

“Não poderia também deixar neste momento de estarmos aqui, colocando as nossas divergências de lado, eu sempre dialoguei com o presidente Bolsonaro. Sabemos que em muitas coisas convergirmos e em outras, não. Mas é o momento em que o Brasil precisa caminhar para frente, e eu acredito muito mais na proposta do presidente Bolsonaro do que na proposta do adversário”, disse Zema.

Outro apoio importante – e surpreendente – que Bolsonaro recebeu foi o do senador eleito Sérgio Moro. Ex-ministro do governo, Moro tinha todos os motivos para simplesmente não se posicionar. De um lado, foi o juiz que mandou Lula para a prisão. Do outro, saiu do governo acusando Bolsonaro de interferir na Polícia Federal.

Em vez da neutralidade, Moro deu um recado claro de apoio ao presidente: “Lula não é uma opção eleitoral, com seu governo marcado pela corrupção da democracia. Contra o projeto de poder do PT, declaro, no segundo turno, o apoio para Bolsonaro”, escreveu em seu Twitter.

O deputado federal eleito Deltan Dallagnol, que também poderia ter escolhido a imparcialidade, retuitou a frase de Moro e completou: “Precisamos unir centro e direita em favor do combate à corrupção, de políticas públicas com base em evidências e de valores da cultura judaico-cristã que dão base à nossa sociedade como amor, compaixão e serviço às pessoas”.

Amor e compaixão são ótimos, ainda mais de um presidente que tirava máscaras de criancinhas na pandemia e fazia elas fazerem sinal de “arminha”. Essa direita se diz com compaixão, mas não lembra um ato desumano e antidemocrático do seu candidato.

Até mesmo apoios que não eram esperados estão acontecendo para Bolsonaro. Nesta terça, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSD), que ficou em terceiro lugar na disputa, declarou “apoio incondicional” à eleição de Tarcísio no governo e à reeleição do presidente.

Enquanto a direita se une e ignora as atrocidades cometidas pelo presidente, a esquerda se divide.

Prova disso foi o “papelão” de Ciro Gomes em vídeo publicado nesta terça, 4, no qual ele simplesmente não cita o nome de Lula, apenas acata a decisão do PDT e ainda critica os dois lados que estão disputando. Ciro parece estar com vergonha de apoiar Lula que, apesar de ter sido condenado, teve seus processos anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Simone Tebet (MDB) já sinalizou que vai apoiar Lula, mas o apoio também não deve ser tão contundente. Segundo informações dos bastidores, Tebet deve dar um “apoio crítico” ao petista.

A esquerda está com vergonha de apoiar Lula. A direita não tem vergonha de apoiar Bolsonaro. Numa eleição que será decidida voto a voto, a diferença do vencedor pode ser exatamente a união que cada um conseguir fazer. Por enquanto, o cenário é de uma esquerda dividida e uma direita unida. E nós já vimos esse filme antes.

Matheus Leitão – Veja

 

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