Por Pedro do Coutto
Setores da opinião pública, entre eles alguns jornalistas, manifestaram logo após as primeiras horas da madrugada desta segunda-feira, preocupação quanto a uma possível dificuldade de Lula da Silva governar com o Congresso majoritariamente bolsonarista e com os governadores eleitos pela corrente que agora ficticiamente estariam na oposição.
Esse risco para mim não existe. O primeiro a se pronunciar parabenizando Lula pela vitória nas urnas foi o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara Federal e figura de realce do bolsonarismo, que agora sai de cena.
ARTICULAÇÃO – Ao seu lado, quando falava, apareceria na televisão o deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara. A política é assim, o Centrão e legendas contrárias ao PT, a partir desta semana, buscarão um entendimento, na verdade, indispensável entre o Congresso e o novo Palácio do Planalto.
No dia 1º de janeiro de 2023, uma nova composição político-partidária surgirá ao amanhecer. É sempre assim. Quem desconhece a atuação do poder e seu efeito sobre as bancadas parlamentares desconhece a essência da política, pois não cabe ao Legislativo obstruir as ações do Executivo, uma vez que isso nada acrescentaria aos que estão se tornando já hoje ex-governistas convictos.
O poder e a política são dessa forma. Às vezes existem detalhes que despertam curiosidade e atenção para os fatos. Veja-se, por exemplo, o caso do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, eleito senador pelo Rio Grande do Sul. Se não tivesse sido substituído por Bolsonaro que preferiu Braga Netto, hoje ele não seria senador, mas um vice no final do mandato. Aliás, é impossível que o destino tenha reservado a Mourão o ato de transmitir a faixa a Lula da Silva no alvorecer do próximo ano.
NOVO PANORAMA – Enquanto no bloco do governo emergem com grande destaque a senadora Simone Tebet e a deputada Marina Silva, que devem ocupar cargos no Ministério, junto ao bolsonarismo destacam-se firmemente os governadores Tarcísio de Freitas e Romeu Zema.
Tarcisio, inclusive, pelo seu desempenho na campanha e pelos votos que conquistou nas urnas e os transferiu para Bolsonaro, surge como, projetada a situação de hoje para daqui a quatro anos, possível candidato à Presidência da República contra Simone Tebet que cresceu na campanha sucessória pela sua firmeza, sua lógica, suas ideias e, principalmente, sua disposição de lutar pela vitória. Ela acrescentou muito à campanha de Lula da Silva, inclusive rejuvenescendo-a.
PARTICIPAÇÃO DECISIVA – Grande capacidade de persuasão, unindo a emoção à lógica, a sua participação foi decisiva para o desfecho de um domingo que ficará na história do país, sobretudo porque coloca no centro da questão social o conceito de extrema pobreza de Paulo Guedes com a realidade brasileira.
Para Guedes, o critério para definir a extrema pobreza é da linha abaixo de US$ 2 por dia, R$ 300 por mês. Por isso, ele destaca e exalta o Auxílio Brasil que distribui US$ 4 por dia aos que se encontram no segmento de menor remuneração no país.
Não fala sequer no salário mínimo e muito menos ainda nos direitos de aposentadoria e no acesso ao emprego com carteira assinada. Para ele, a pobreza não importa e é apenas um detalhe da concentração de renda comandada pela mão de tigre do mercado financeiro. Abre-se assim um campo bastante amplo para Lula marcar a sua atuação. Mudou a atmosfera do Brasil, mudou a essência da realidade do país.
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