Por Pedro do Coutto
Como era esperado, as forças partidárias que apoiaram Bolsonaro ao longo do governo rapidamente estão se transferindo para apoiar o governo Lula que se instalará no país em 1º de janeiro.
O primeiro sinal foi na noite do próprio domingo pelo deputado Arthur Lira, presidente da Câmara. A segunda etapa começou no amanhecer de segunda-feira. Política é assim, marcada pela alternância do poder e, com isso, a adesão das forças em torno dos governos que surgem pelas urnas.
RENOVAÇÃO DO PODER – Foi magnífica a análise sobre o que é política feita pela jornalista Eliane Cantanhêde na tarde de quinta-feira, no último programa Raio-X das Eleições, da GloboNews. Ela destacou as modificações que se sucedem no processo democrático, principalmente no que se refere à renovação do poder. Efetivamente, os que perdem eleições não podem ter como objetivo sabotar ou obstruir o governo que passou a ser ocupado pelos adversários vitoriosos.
O exemplo negativo está nas pastas do tempo com a atuação do deputado e depois governador da Guanabara, Carlos Lacerda. Mas, também através das décadas, a atuação das forças econômicas se modificou. O fornecimento de petróleo saiu de cena e foi substituído por interesses relativos ao refino, uma vez que nesse setor o Brasil não é autossuficiente.
Há tempos, quando a Petrobras se instalava em 1953, o Brasil produzia menos de 10 mil barris por dia para um consumo de 300 mil. Um mercado de grande interesse para os fornecedores. Depois, o governo JK, combativo ao extremo até 1959, conseguiu elevar a produção para 100 mil barris por dia, um terço do consumo. No ano final do seu mandato, como em um passe de mágica, a oposição alucinada cessou. Em 1961, tomou posse Jânio Quadros; a renúncia em agosto foi um desastre e o motivo da crise que dura até hoje.
TRANSIÇÃO – Agora é um novo tempo. O grupo de trabalho da transição, conduzido pelo vice eleito, Geraldo Alckmin e por Ciro Nogueira, já se instalou e na segunda-feira começará a trabalhar efetivamente, incluindo a remoção de obstáculos deixados pelo ministro Paulo Guedes no Orçamento para 2023.
É preciso reformular verbas na Lei do Orçamento Anual, sem o que a atuação do governo em pontos essenciais se tornaria impossível. Guedes deixou o orçamento, como se dizia antigamente, numa colcha de retalhos. Dessa forma é necessário reunificar e viabilizar as partes para que o novo governo possa administrar o país. A verba orçamentária para o pagamento dos R$ 600 às famílias carentes é um deles. Paulo Guedes deixou uma situação que reduzia esse pagamento a R$ 400. Mas essa é outra questão.
Em matéria de adesão, já se verificou também a do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal e principal proprietário da TV Record, dizendo que “é preciso perdoar Lula porque ele foi eleito pela vontade de Deus”. Matéria de Anna Virginia Balloussier, Folha de S. Paulo desta sexta-feira. Conforme escrevi recentemente, fecham-se as cortinas de um governo e abrem-se perspectivas para o ex-presidente Lula que retorna ao poder pelo voto popular.
NOVO PROJETO – O processo político, como da própria vida humana, inclusive porque a política é feita por seres humanos, continua o seu ritmo e agora no Brasil sob um novo estilo e com um novo projeto. As adesões se sucedem, as conversações em torno delas, como é natural, também avançam.
Como sustentou Geraldo Alckmin, há necessidade de pressa para que até a metade de dezembro seja aprovada a Emenda Constitucional assegurando as verbas que faltam para o novo Bolsa Família de R$ 600, para a merenda escolar, para a Saúde, para a Educação e outros programas essenciais. No O Globo, a reportagem é de Manoel Ventura, Paula Ferreira, Bruno Góes e Jennifer Gularte.
RETORNO DE RUY CASTRO – Foi um acontecimento muito positivo o restabelecimento de Ruy Castro e o seu retorno na quinta-feira à coluna na Folha de S. Paulo. Voltou ao gramado, voltou à luta pela sensibilidade, pela tradução dos fatos e pela cultura.
Conforme já dito, a sua trajetória tem iluminado gerações do país e funcionado para mostrar que a cultura se constrói e se renova, e que, a exemplo da história, também está no presente unido ao passado pela ponte encantada da percepção e do estilo, do conteúdo e da forma, pilares sobre os quais fundamentou as suas obras.
A sua incansável produção ao longo de décadas representa um avanço e uma contribuição extraordinários, sendo a tradução indispensável dos fatos que iluminam as vidas humanas. Ruy Castro é, definitivamente, um dos colunistas mais brilhantes da imprensa de todos os tempos, sobretudo porque une a forma ao conteúdo que todos nós esperamos encontrar no que é escrito a cada dia.
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