Os acenos do PT ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), abriram a primeira crise entre os partidos que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, tenta atrair para sua base, especialmente MDB e União Brasil. As duas siglas trabalham para lançar uma candidatura alternativa ao comando da Casa em fevereiro e querem ter os petistas do mesmo lado. O principal argumento é que Lira, aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), trabalhou contra a eleição de Lula e, ao se reeleger, pode fortalecer a oposição na Casa.

O problema é que Lula precisa da ajuda de Lira para aprovar a chamada PEC da Transição, que o permitirá cumprir promessas de campanha, como o pagamento do Bolsa Família de R$ 600. Em troca desse apoio, o presidente eleito desaconselhou o PT a perseguir uma candidatura própria na Câmara e afirmou que não vai interferir na disputa no Legislativo. Na prática, a “neutralidade” é tudo que o parlamentar do Centrão precisa para fechar acordos de bastidores com petistas. As informações são do O Globo.

Dos 56 deputados hoje na bancada do PT, a estimativa interna é que cerca de 20 votaram em Lira para presidente no início de 2021, mesmo após o partido oficialmente apoiar a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) naquela ocasião. Agora, os simpáticos ao presidente da Câmara avaliam que é melhor trabalhar com a perspectiva de apoiar sua reeleição do que enfrentá-lo sem sucesso novamente e criar uma indisposição, que pode assombrar os primeiros dois anos de governo Lula.

Procurado, o líder do PT, deputado Reginaldo Lopes (MG), disse que ainda não há uma definição da bancada sobre o apoio a Lira na disputa pela reeleição. O deputado Paulão (PT-AL), contudo, lembra da eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE), em 2005, quando petistas se dividiram e permitiram que um parlamentar do chamado “baixo clero” comandasse a Câmara, derrotando um nome do partido. Segundo ele, foi um erro que não pode ser repetido.

— Não está definido que vai ser ele (Lira). O importante é que os partidos que apoiam Lula, que são 10 partidos, têm que fazer um desenho para ter uma estratégia vitoriosa. Porque se você perde o presidente da Câmara, ele tem poder para instalar um processo de impeachment — afirmou.

O próprio Lula lembrou do episódio envolvendo Severino durante a conversa que teve com Lira na semana passada, na residência oficial da Câmara, segundo parlamentares presente. A menção ao episódio, que marcou seu primeiro mandato como presidente, foi interpretada por aliados como indicação de que o PT não deve se arriscar novamente.

Um dos mais incomodados com o aceno a Lira é o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que tenta convencer os petistas a não negociarem com o Centrão a aprovação da PEC. O parlamentar, adversário político do presidente da Câmara em Alagoas, criticou publicamente a proposta do governo de transição. “A aliança com o Centrão apavora porque sinaliza descompromisso com a política fiscal”, publicou nas redes sociais na sexta-feira passada.

Orçamento secreto

Na avaliação de Renan, ao aprovar a PEC, o PT também vai validar o orçamento secreto, pois manteria os recursos previstos no ano que vem para as chamadas emendas de relator, mecanismo pelo qual o governo Bolsonaro passou a contemplar parlamentares aliados com mais recursos que os demais em troca de apoio no Congresso. Desde que assumiu o comando da Câmara, em 2021, Lira se tornou um dos principais operadores dos repasses, negociando com as bancadas de cada sigla.

Embora críticos às emendas de relator ao longo do governo Bolsonaro, petistas já admitem m acordo pela manutenção do mecanismo em nome da governabilidade.

No fim da semana passada, integrantes da cúpula do MDB aguardavam um contato de Lula para tentar expor as divergências em uma conversa reservada. Esse encontro, porém, ainda não aconteceu. A avaliação do grupo é que o futuro presidente está dando sinais trocados em relação à posição que quer adotar no Congresso e, enquanto não definir uma estratégia, haverá fragilidade na base.

Blog do Magno 

 

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