Por Carlos Newton
Se anda estivesse por aqui, nosso amigo Nelson Rodrigues estaria radiante. Escreveria uma crônica atrás da outra, à sombra das chuteiras imortais, para nos revelar que os deuses do futebol estão mesmo ajudando o Brasil em mais uma Copa do Mundo.
Nem sempre foi assim. Os deuses do futebol nos abandonaram em 1950, em pleno Maracanã, levando o grande jornalista e dramaturgo a estabeleceu a relação entre a derrota de 50 e o “complexo de vira-latas”, expressão criada por ele e que será para sempre lembrada.
ESCREVEU NELSON – “Por ‘complexo de vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos ‘os maiores’ é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos em 1996? Porque, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo.”
Nessa crônica, Nelson acrescentou: “Eis a verdade, amigos: desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2 x 1. E custa a crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande.”
“Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: – e perdemos da maneira mais abjeta”.
EM BUSCA DO HEXA – Depois disso, Nelson Rodrigues assistiu ao Brasil se tornar tricampeão, com o melhor time de História e o maior Atleta do Século. Mas não estava mais conosco para celebrar o tetra e o penta, e agora para sonhar com o hexacampeonato.
“Não me venham dizer que o escrete é apenas um time. Não. Se uma equipe entra em campo com o nome do Brasil e tendo por fundo musical o hino pátrio – é como se fosse a pátria em calções e chuteiras, a dar botinadas e a receber botinadas”, escreveu o cronista.
Nesta Copa em andamento, Nelson Rodrigues estaria escrevendo textos admiráveis, para revelar que os deuses do futebol estão ajudando a seleção brasileira, mais uma vez. Nos colocaram numa chave moleza, contra Sérvia, Suíça e Camarões. Depois, nas oitavas de final, a Coreia do Sul. Em seguida, a Croácia… Se não são os deuses, o que seria?
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