Após as eleições no Congresso, emissários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificaram as conversas com partidos que davam sustentação ao governo de Jair Bolsonaro. A investida envolve negociações de cargos de segundo e terceiro escalões para garantir apoio à aprovação de pautas prioritárias do Palácio do Planalto.

Responsável pela articulação política, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, já teve reuniões com caciques de Republicanos e União Brasil, além de ter mantido contato com o PP. As três siglas têm integrantes dispostos a fazer uma aliança com o novo inquilino do poder e já deixaram clara a disposição de dialogar. As informações são do O Globo.

Para ampliar a base, o governo tem acenado com cargos na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e superintendências estaduais dos Correios. Também avalia recriar a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que tem um orçamento de R$ 2,9 bilhões para realizar obras de saneamento básico e cujas atribuições foram transferidas ao Ministério das Cidades, comandado pelo MDB.

O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), avalia que a manutenção da Funasa, extinta por Lula, seria um ativo importante para ajudar a consolidar a base:

— Isso (recriação da Funasa) é fundamental para a relação com os partidos da base. Informei (aos ministros do governo) que não achei uma boa solução. É um órgão indispensável a pequenos municípios — justificou o deputado.

Nas conversas com antigos aliados de Bolsonaro, a maior dificuldade está em pavimentar um acordo com o PP, do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), reeleito ao posto na semana passada com 464 votos, um recorde desde a redemocratização.

O partido também é liderado por Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil e opositor declarado de Lula. Nomes importantes da legenda, que tem 49 deputados e seis senadores, já fizeram chegar a Lula que a adesão ao governo dependeria da ocupação de ministérios, o que não está no horizonte do presidente pouco mais de 30 dias depois de ele ter fechado a composição da Esplanada.

Para driblar essa resistência, Lula aposta na relação com o presidente da Câmara e na manutenção de cargos ocupados por expoentes do partido. O comando do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) continua com Fernando Marcondes Leão, indicado em 2020 pelo cacique do Centrão e pelo Avante de Pernambuco.

De acordo com integrantes da sigla, o parlamentar não planeja atuar como oposição, mas está contrariado com a nomeação para ministro dos Transportes de Renan Filho, cujo pai, Renan Calheiros, é rival histórico de Lira em Alagoas.

Independentemente do desfecho das negociações entre Lula e o presidente da Câmara, integrantes do PP já admitem que não querem ficar alijados do poder.

— É natural que o PP queira conversar. Mesmo porque o partido já declarou independência, mas parte da bancada não quer ser oposição — diz o deputado Doutor Luizinho (PP-RJ).

Na semana passada, Alexandre Padilha se reuniu com o líder do Republicanos na Câmara, Hugo Motta (PB). O partido integra a tríade que compõe o núcleo duro do Centrão, ao lado de PP e PL. Na avaliação do Planalto, a relação com a sigla ligada à Igreja Universal tende a ser mais circunstancial e focada em pautas econômicas e sociais do governo, sem o compromisso de alinhamento nas propostas relacionadas a costumes.

— Seremos independentes. Aliás, já somos — diz o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP).

Parlamentares do partido, porém, já sinalizaram a Padilha a disposição de votar com Lula em propostas estratégicas como, por exemplo, a reforma tributária e, a depender dos parâmetros, a nova âncora fiscal que o governo apresentar. Para azeitar essa relação, o governo já entregou uma demanda apresentada pela legenda: apoiou e foi fundamental para aprovar o nome do deputado Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) ao cargo de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), na semana passada.

Em outra frente de negociação, Alexandre Padilha vai se reunir nesta semana com o presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE). O partido já foi agraciado com três ministérios (Turismo, Comunicações e Integração Nacional). Ainda assim, não garante a maioria dos 59 votos esperados por Lula na Câmara.

 

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