Campos Neto é contra alterar meta de inflação e deseja se encontrar com Lula

Por Pedro do Coutto

Enquanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sustenta ser contrário às mudanças na meta de inflação para este ano, o ministro Fernando Haddad e a ministra Simone Tebet, seguindo claramente a posição do presidente Lula da Silva, irão se opor a essa perspectiva na reunião do Conselho Monetário Nacional, peça-chave para a fixação da política de juros e também para definição da taxa Selic, através da qual é corrigido o valor da dívida interna do país.

No momento, conforme já me referi sobre o assunto, a incidência de 13,75% sobre R$ 6 trilhões, montante da dívida, acarreta uma despesa financeira para o país em cerca de R$ 800 bilhões por ano. A questão da Selic e a perspectiva traçada para a inflação a se registrar em 2023 são fortes pontos de atrito entre Roberto Campos Neto e o presidente Lula da Silva.

META DE INFLAÇÃO – Numa ampla entrevista a Alvaro Gribel, O Globo desta terça-feira, Campos Neto afirmou que é contra alterar a meta de inflação e que deseja se encontrar com o presidente Lula da Silva para esclarecer pontos relativos à previsão inflacionária e a consequência do processo para cima do índice traçado.

“Estou disponível sempre para conversar, não só com o presidente, mas com todos os ministros. Quero explicar a agenda do Banco Central e quero trabalhar em harmonia. O ambiente colaborativo é o melhor ambiente para a sociedade, não só para o Banco Central”, afirmou Campos Neto. Se por dois votos a um, como se espera, a meta de inflação for alterada para o nível proposto pelo governo, esse fato significará uma grande derrota para o presidente do BC, abalando fortemente sua permanência no cargo.

O fato dele possuir mandato até 2024, com base na autonomia do banco, não significa obstáculo político intransponível. Isso porque não é possível que alguém esteja em posição frontalmente diversa do posicionamento do presidente da República e possa fazer prevalecer sua vontade.

ABALO – Neste caso, tal desfecho, provocaria um abalo enorme na autoridade do presidente Lula com consequências em todo o governo. Campos Neto busca uma solução, mas a essa altura dos acontecimentos parece inviável, talvez mesmo impossível. Na Folha de S. Paulo, o tema é abordado por Cátia Seabra, Vitória Azevedo e Lucas Marquezine. No Estado de S. Paulo, a reportagem é de Adriana Fernandes e Luiz Guilherme Gerbelli.

No programa Roda Viva da TV Cultura, na noite de segunda-feira, Campos Neto rebateu as críticas de Lula aos juros altos e disse que uma mudança agora pode provocar um efeito contrário ao que deseja o presidente da República. O conflito está, portanto, acentuado  na medida em que se aproxima o confronto de amanhã no Conselho Monetário Nacional. As posições do governo são contrárias as do presidente do Bacen e o problema terá que ser resolvido. Não é possível que uma controvérsia desse tipo permaneça.

HADDAD E MERCADANTE  – Tema do programa Em Pauta, na GloboNews na última segunda-feira, e objeto de reportagem de Malu Gaspar, O Globo de ontem, uma iniciativa tomada pelo BNDES criou reação contrária do Ministério da Fazenda, colocando em pontos opostos o ministro Fernando Haddad e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

Mercadante anunciou a realização de um seminário, inclusive com a participação de técnicos internacionais,  para discutir uma nova arquitetura fiscal, campo que se inclui entre as atribuições do Ministério da Fazenda. Mercadante diz que está trabalhando em conjunto com Haddad, mas o fato é que a equipe do titular da Fazenda considera diferentes os enfoques e a estrutura fiscal do país.

O problema está criado na véspera do projeto de Reforma Tributária do governo Lula defendida pela ministra Simone Tebet numa entrevista a João Sorima Neto, O Globo, considerando a reforma como sendo uma bala de prata para reduzir os custos públicos e as contradições do sistema em vigor que prejudica frontalmente os assalariados e beneficia os milionários.

 

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