Valor Econômico on Twitter: "Mourão gasta R$ 1,6 milhão no cartão  corporativo em 2022; só em uma estada em hotel de SP foram R$ 38 mil  https://t.co/zhOegmWszK" / Twitter

Charge reproduzida do Valor Econômico

Por Carlos Newton

Uma das faces mais repulsivas, deprimentes e revoltantes do exercício do poder no Brasil é o uso do cartão corporativo pelas autoridades. Trata-se de uma praga que invade os três apodrecidos Poderes da República. A prática espoliativa de recursos públicos inclui até saques em dinheiro, uma modalidade que, apesar de estar consagrada, contraria decreto assinado em 2005 pelo então presidente Lula da Silva.

O pior é que esse ilegal e vergonhoso comportamento das autoridades se eterniza, porque não há punição, não acontece nada, rigorosamente nada.

NO NOTICIÁRIO – A questão dos cartões corporativos começou a frequentar o noticiário político desde que o então presidente Lula da Silva, ao assumir o governo em 2003, criou um alto cargo público (chefe de Gabinete da Presidência em São Paulo), para beneficiar sua amante, Rosemary Noronha, com luxuoso escritório alugado, carro oficial, motorista, assessores, secretárias, contínuos e… cartão corporativo.

Desde então, o vexaminoso tema vem sendo abordado pela imprensa, sem que haja qualquer providência. A notícia mais recente é sobre o general Hamilton Mourão, que gastou R$ 3,8 milhões com o cartão corporativo da Vice-Presidência da República.

As principais despesas do general estão relacionadas a alimentação, hospedagens e viagens, incluindo compras em supermercados, sendo alguns deles gourmets, peixarias, hotéis, empresas de fornecimento de alimentação a bordo e até clínicas e hospitais, no Brasil e no exterior.

NÃO É EXCEÇÃO – Mourão, que foi brindado com oito anos de mandato no Senado, infelizmente não é exceção. O cartão corporativo do ex-presidente Jair Bolsonaro também registra gastos espantosos, incluindo motociatas e outros eventos eleitorais.

É um verdadeiro festival, que inclui muitos saques em dinheiro, embora o ex-presidente tente se livrar da responsabilidade, alegando que jamais comprou nem mesmo um picolé com o cartão, que era usado também para gastos pessoais da primeira-dama Michelle.

Os números da Controladoria-Geral da União, divulgados recentemente pela BBC Brasil, indicam que a administração Lula, na média anual, foi a que mais gastou com o cartão, tanto quando se considera o total do governo (R$ 111,6 milhões ao ano), como quando se observa apenas as despesas da Presidência (R$ 13,6 milhões), em valores atualizados pela inflação.

OUTROS GOVERNOS – Na outra ponta, a administração Temer aparece como a que menos usou o cartão: R$ 66 milhões na média anual de todo o governo, e R$ 6,3 milhões na média anual da Presidência.

Já Dilma e Bolsonaro se alternam. O governo dela aparece como o segundo que mais gastou no total (R$ 105,4 milhões em média), enquanto o capitão aparece com o segundo maior gasto quando se considera apenas o uso do cartão pela Presidência (R$ 11,3 milhões em média), em dados disponíveis até outubro de 2022

Em suma, os governantes se sucedem, monotonamente, sem que nenhum deles, à exceção de Itamar Franco, demonstre a menor intenção de defender os interesses públicos — ou do cidadão-contribuinte-eleitor, como dizia Helio Fernandes.

 

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