Por William Waack / Estadão

Eu estou certo e o mundo está errado costuma ser uma postura típica de profetas. Às vezes precisam de séculos para terem razão. Ou não. Lula não é profeta, nem visionário, nem tem todo esse tempo para confirmação. Mas, na vital esfera da política econômica, está se comportando como se fosse dono de uma verdade que só mal-intencionados se recusam a aceitar.

O presidente enxerga o crescimento da economia como função quase exclusiva do aumento do consumo das famílias, que, por sua vez, depende da transferência de renda via políticas públicas e da expansão de gastos sociais.

NA VISÃO DE LULA… – Os obstáculos, tais como equilíbrio fiscal, são vistos por Lula como artifícios criados por ricos que só prosperam vivendo da renda de juros altos. E por reacionários que combatem por motivos ideológicos um governo que se diz comprometido com os pobres.

O Lula dos 77 anos exibe traços de regressão a um passado no qual as coisas pareciam mais simples. Enxerga a Lava Jato como operação do serviço secreto americano destinada sobretudo a destruir a capacidade de competição internacional de grandes empreiteiras brasileiras.

MUITO AUTOCENTRISMO – O Lula 3 exibe também um notável traço de autocentrismo, em oposição ao Lula 1 e 2, quando estava cercado de operadores políticos capazes de peitá-lo. E cujo julgamento o então presidente respeitava (como Dirceu, Palocci, Meirelles ou Thomaz Bastos).

O Estado-Maior petista de hoje é considerado de segunda linha, quando comparado ao grupo que cercava Lula 20 anos atrás. O problema para a visão de mundo propagada pelo presidente é que nela não parece haver lugar para dois fatores de altíssima complexidade: a deterioração dos poderes do chefe do Executivo frente ao Legislativo e a polarização política calcificada que reforça ampla oposição social (que tirou do lulismo a antiga capacidade de conciliação).

TOM DE EXASPERAÇÃO – Árbitro supremo de todas as questões, Lula 3 tem hesitado em tomar decisões, como aconteceu com o arcabouço fiscal – e, por isso, é criticado abertamente por operadores políticos como Arthur Lira.

Os fatos difíceis da realidade (degradação do poder político e estagnação do crescimento econômico) ajudam a entender essa hesitação, ao mesmo tempo que parecem aprofundar em Lula uma clara frustração. O Lula 3 televisivo exibe mais exasperação do que otimismo e confiança. O profeta está tendo dificuldades para mudar a realidade.

 

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