Fonte: Fernando Nakagawa para CNN Brasil
Abilio Diniz foi protagonista em todos os grandes movimentos do comércio nas últimas décadas. Da popularização do autosserviço nos anos 1960 até a chegada do comércio eletrônico na era da internet, o empresário ajudou a moldar o varejo brasileiro – e de maneira incansável.
Mais velho dos sete filhos da dona Floripes Pires e do seu Valentim Diniz, Abilio sempre foi o que demonstrou mais tato para os negócios.
A primeira grande incursão foi ainda no fim da década de 1950 quando Abilio – com pouco mais de 20 anos – esteve, ao lado do pai, na transformação da Doceria Pão de Açúcar em um mercado. Nascia ali, na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, em São Paulo, o que viria a ser o maior nome do varejo da América Latina décadas depois.
Enquanto a empresa crescia, o filho mais velho dividia decisões com irmãos e o pai, mas Abilio nunca deixou de tentar imprimir seu ímpeto no DNA no grupo. Era considerado destemido em movimentos de aquisição de concorrentes – o que foi essencial para o crescimento da empresa. A personalidade forte, porém, o afastou dos irmãos e dos negócios por praticamente uma década nos anos 1980.
Esse destemor, porém, voltou a ser necessário anos depois, no fim daquela década. A empresa vivia uma profunda crise, e o filho mais velho voltou para liderar o processo de reorganização do Pão de Açúcar. Na época, Abilio foi o protagonista na reestruturação.
Ele não pensou duas vezes em usar a tesoura para cortar profundamente gastos e reduzir o tamanho da empresa, que esteve perto da falência.
No fim da década de 1990, Abilio ousou ao trazer para a sociedade uma empresa estrangeira, o francês Casino. Queria responder à força do concorrente e também francês Carrefour – que roubara a liderança do varejo brasileiro anos antes. Mas o que era um sócio virou inimigo.
Abilio travou uma das maiores batalhas societárias do capitalismo brasileiro contra Jean-Charles Naouri, principal executivo do Casino na época. O sócio – que era minoritário – gradualmente aumentou a posição e exerceu o direito previsto em contrato para assumir o controle do Pão de Açúcar em 2012.
Abilio tentou impedir essa virada de mesa com um plano ainda mais ousado: se aliar ao arquirrival do Casino, o Carrefour. O plano não deu certo, e o filho mais velho do seu Valentim foi obrigado, pela força do contrato, a deixar o conselho de administração e vender as ações que tinha na empresa.
O Pão de Açúcar deixava de ser dos Diniz, mas Abilio não desistia do varejo.
Três anos depois, surpreende o mundo dos negócios ao comprar uma grande participação no Carrefour. A empreitada seguiu nos anos seguintes e Abilio passou a ser o segundo maior acionista do grupo francês no mundo com 8,4% das ações, atrás apenas da família Moulin.
E, assim, o incansável Abilio voltou à liderança do varejo brasileiro. Hoje, o Carrefour Brasil vende 40% mais que a soma dos negócios do Casino no país: o atacarejo Assaí e o Pão de Açúcar.
Protagonista nas grandes transformações do setor, Abilio seguirá vivo com o grande legado nos negócios, mas o empresário sempre deixou claro que a vida fora do trabalho é tão importante quanto aquela vivida das 8h às 17h, no escritório.
Por isso, sempre deixou claro que havia outros Abilios. O Abilio são-paulino, que não temia em dar pitacos no dia a dia do São Paulo Futebol Clube.
O Abilio esportista, que não temia os 42 quilômetros de uma maratona e incentivava funcionários a correr do seu lado. O Abilio fiel à Santa Rita de Cássia, e que fazia questão de mantê-la na sede do Pão de Açúcar e em algumas lojas.
Santa Rita de Cássia é a padroeira das causas impossíveis. Mas, para o incansável e destemido Abilio Diniz, nada foi impossível.
Abilio faleceu no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, vítima de pneumonia. O velório será realizado nesta segunda-feira (19), no Salão Nobre do Estádio do Morumbi, do São Paulo, seu clube do coração, das 11h às 15h.
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