A tentativa de atentado a bombas na praça dos Três Poderes mostrou que o espaço síntese da representação da República ainda é um lugar vulnerável a ação de extremistas, sejam dementes ou agentes conscientes de orquestração liberticida.

A radicalização está presente, ativa, ataca em qualquer lugar e em qualquer momento sem que possamos dizer que somos pegos de surpresa, embora um tanto desprevenidos. A intolerância incorporou-se ao cotidiano. Instalou-se como um tumor, que, se não for combatido o quanto antes, ameaça o país de metástase.

MESMO VENENO -O enfrentamento da questão, no entanto, não será eficaz se ocorrer mediante a aplicação de doses do mesmo veneno em sentido contrário. Antes pode servir de alimento à virulência, cujos procedimentos precisam ser superados.

Não se trata de pregar omissão, condescendência ou defender a mera pacificação retórica. Esta se apresenta agora diante do episódio recente na voz daqueles que por conveniência procuram se desvincular da selvageria por eles semeada. A contraofensiva estará sempre à espreita. Bem pontuou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) que lobos podem agir de maneira solitária, mas “de alguma matilha eles saíram”.

É de se desconfiar da facilidade com que defensores de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro decretaram o “enterro” da ideia. O cadáver seguirá insepulto à espera da chance de ressurreição.

FACILIDADE DEMAIS – Tal oportunidade não pode ser oferecida tão facilmente pela pressa de organizar as exéquias do moribundo e usá-lo para, quem sabe, desferir um golpe mortal na ultradireita.

Amarga ilusão. Manifestações exacerbadas de indignação e conexões antecipadas por parte de investigadores e futuros julgadores fornecem material para que os que estão agora na berlinda retomem a tese da perseguição política.

Assim se dá combustível aos radicais. Mais eficiente seria a contenção nas palavras enquanto se robustecem as indispensáveis punições aos arautos da criminalidade institucional, a fim de deixá-los sem margem a qualquer tipo de reação que soe convincente aos ouvidos da sociedade.

Dora Kramer / Folha

 

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