Desde dezembro do ano passado, o general Walter Braga Netto não mais integrava o quadro de assessores do PL, o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Com ele, tinham saído também do partido o grupo de militares que o cercava.

Era já um reflexo da tentativa do partido de se desvincular do rolo em que se metera, quando começaram a ficar mais fortes as evidências, nas investigações policiais, de que esse círculo militar tramara um golpe contra a democracia brasileira.
Difícil o PL e parte grande da direita brasileira se desvencilhar disso. O próprio presidente do partido, Valdemar Costa Netto, é um dos investigados no inquérito dos atos antidemocráticos. Mas a prisão do general aperta mais esse nó. E pode acelerar movimentos ao centro.

Embora não admita, um desses movimentos vem do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, conhecido como JHC. Ele é um dos quatro prefeitos de capitais eleitos pelo PL. Na semana passada, noticiou-se que estaria negociando a ida para o PSD, de Gilberto Kassab.

JHC nega a mudança de partido. Mas admite que conversa e tem aproximação com o PSD e outros do campo governista. Se sai ou não do PL ele, porém, prega a necessidade de que os grupos políticos do país passem a conversar mais, a ter “mais diálogo e menos extremismo”.

O fato é que o movimento na capital de Alagoas é parte de uma forte discussão que acontece no PL, especialmente vinda daqueles integrantes do partido mais antigos, que ali não chegaram levados pelo bolsonarismo. Se a aproximação com Bolsonaro fez o PL ascender à condição de um dos maiores partidos do país, levou com ela uma dose de extremismo que não está em seu DNA. Mais que o liberalismo, o DNA original do PL é o adesismo. O que faz Valdemar Costa Neto figurar a nada confortável condição de ser personagem principal tanto do maior escândalo da esquerda – o Mensalão – quanto agora da tentativa de golpe da direita.

Para 2026, pela direita, Bolsonaro está inelegível. Nada supõe que consiga reverter. E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta problemas de saúde que levam a questionamentos sobre se terá vigor para nova disputa presidencial. Os demais são aventuras incertas.

Que, para se viabilizarem, precisarão construir fortes alianças. Não por acaso, tanto no PT, à esquerda, como no PL e outros partidos conservadores, há hoje grupos que defendem o abandono de posições mais extremadas para composições mais próximas do centro.

As eleições municipais já teriam dado recados do esgotamento da polarização política nas escolhas de boa parte dos eleitores. Partidos que se situam ao centro, como o PSD e o MDB, saíram fortalecidos da disputa pelas prefeituras. Sem nomes fortes para a Presidência.

Tornam-se, portanto, opções fundamentais para eventuais composições. Com um perfil que não convida à adesão a aventuras extremadas. Tanto Kassab, o cacique do PSD, como os diversos caciques emedebistas ganham politicamente com a democracia.

Fonte: Correio da Manhã

 

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