Via Jornal do Brasil

O desembargador José Marcos Lunardelli, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), concedeu nesta sexta-feira (dia 6) habeas corpus determinando a libertação de Cesare Battisti. A informação foi dada pelo advogado do italiano, Igor Sant’Anna Tamasauskas. Trata-se de uma medida liminar. “A defesa esclarece, ainda, que está adotando as providências cabíveis para que Battisti seja solto ainda nesta noite”, declarou Tamasauskas.

O advogado disse que seu cliente voltará para casa assim que a Polícia Federal no Mato Grosso do Sul for informada da decisão e tomar as providências necessárias para soltá-lo. Battisti havia sido detido na última quarta-feira, ao tentar entrar na Bolívia com o equivalente a cerca de R$ 23 mil em moeda estrangeira, valor acima do limite de R$ 10 mil com o qual é possível sair do país sem declarar à Receita.

JUSTIFICATIVAS – Em depoimento à Polícia Federal, o italiano disse que havia viajado a Corumbá para “pescar” e que iria à Bolívia para “comprar roupas de couro”. Ele viajava com mais dois amigos, Paulo Neto Ferreira de Almeida e Vanderlei Lima Silva, e é acusado de evasão de divisas.

Na Itália, o ex-juiz Pietro Forno, primeiro a se ocupar dos homicídios cometidos pela Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), à qual pertencia Cesare Battisti, comentou que o italiano, preso preventivamente no Brasil ao tentar entrar na Bolívia com o equivalente a R$ 23 mil em moeda estrangeira, tem um diploma “honoris causa em fuga”.

Hoje aposentado, o ex-magistrado contou, em entrevista à Ansa, que não ficou surpreso com a nova detenção de Battisti, acusado de evasão de divisas pela Polícia Federal. Segundo os investigadores, o italiano tentava fugir para a Bolívia para escapar de uma possível extradição.

SEMPRE FUGINDO – “Ele escapou ainda antes que lhe pudessem ser contestados os crimes de homicídio, de organização armada e outros que emergiram em 1983, quando um investigado começou a colaborar”, disse, lembrando do início dos inquéritos contra a facção PAC.

Battisti foi condenado na Itália à prisão perpétua em 1987, réu por quatro assassinatos atribuídos à milícia nos anos 1970, além de assaltos e outros delitos menores. No entanto, alegando perseguição política, o italiano não cumpriu um dia sequer da pena e, em seu período de fuga, passou por França e México, até chegar ao Brasil.

Para Forno, Battisti é responsável pelos crimes que lhe foram imputados, mas não o único. Naquela época, vigorava a chamada “Doutrina Mitterrand”, por meio da qual o então presidente da França, François Mitterrand, dava proteção a ex-guerrilheiros que abdicassem do terrorismo, prática que beneficiou muitos italianos, incluindo Battisti.