“Vença quem vencer, é uma eleição que deixará corpos pelo caminho”. A frase usada por um líder do PMDB durante uma reunião de congressistas governistas quando o PT decidiu lançar a candidatura de Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara soou alarmista para a maioria dos participantes da conversa, em dezembro, mas, às vésperas da eleição, revelou-se profética.

Desde a eleição do folclórico deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), em 2005, o plenário da Câmara nunca vivenciou uma disputa tão tensa e imprevisível para a presidência da Casa. Neste domingo, quatro candidatos representam interesses diferentes no Legislativo, com blocos de apoio menores e mais divididos do que em pleitos anteriores – os últimos três foram decididos no primeiro turno, com vitória de governistas.

Se há dez anos, Severino Cavalcanti tinha pela frente a tarefa de controlar um Legislativo imerso em denúncias e processos relacionados ao escândalo do mensalão, o próximo presidente da Câmara terá ainda mais trabalho dado o potencial explosivo do petrolão, um megaesquema de corrupção com proporções inéditas que sangrou a maior empresa estatal do país para abastecer o bolso de políticos e o caixa de partidos aliados do governo. O site de VEJA e TVEJA vão acompanhar neste domingo os bastidores e os desdobramentos da disputa que já deixou fraturas na base da presidente Dilma Rousseff. (Veja)

Eduardo Cunha

Aos 56 anos, no terceiro mandato na Casa, Eduardo Cunha é um político meticuloso, que conhece como poucos as entranhas do poder em Brasília. Seus aliados projetam que, no futuro, será facilmente equiparado ao senador Renan Calheiros, também do PMDB. Com pelo menos três celulares criptografados, Cunha lidera com desenvoltura as negociações nos bastidores no Congresso, define cargos para seus afilhados políticos, traça estratégias para dificultar os interesses do Palácio do Planalto. Alvejado por denúncias de corrupção, sempre saiu praticamente ileso das acusações atribuídas a ele. No ano passado, foi absolvido, por falta de provas, da imputação de usar documentos falsos para suspender um processo no qual o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) apurava irregularidades em sua gestão na companhia estadual de habitação (Cehab) – responsável pelas verbas destinadas à construção de casas populares.