Por Carlos Chagas

Michel Temer, se der certo a recuperação econômica, poderá rever a decisão de não candidatar-se à reeleição, porque direito ele  dispõe desde já,  pela Constituição. A  candidatura de Henrique Meirelles só se viabilizaria com o sucesso do primeiro fator,  que o segundo anularia. Com o presidente e o ministro da Fazenda fora do páreo, dificilmente o PMDB teria chance, por falta de candidato. A menos que Roberto Requião se reciclasse, hipótese remota.

As projeções mudam quando se olha para o PSDB, que tem candidatos até demais, em especial depois da vitória nas recentes eleições municipais. Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra correm o risco de canibalizar-se e assistir a ascensão do pretendente que há anos vem montando sua estratégia, o ex-presidente Fernando Henrique. Apesar dos 85 anos atuais, mais parece um adolescente empenhado em reler a biografia de Konrad Adenauer.

Fora das duas forças partidárias maiores, outras surpresas se arriscam. Estaria o PT sepultado pela tragédia de Dilma Rousseff e a queda do Lula? Como explicar, porém, a fobia das elites em destroçar o que sobrou do torneiro mecânico? Haveria no PT outro capaz de, sem ter lido Proust, andar com “Em Busca do Tempo Perdido” debaixo do braço? Teriam virado fumaça as massas um dia imaginando-se a um passo do poder?

Mas tem mais. Marina Silva encomendou  a túnica de Madre Teresa de Calcutá. Ronaldo Caiado espera montar o corcel do Zorro. Álvaro  Dias até abandonou o ninho dos tucanos para voar mais alto. Jair Bolsonaro confia na força dos quartéis despojados de fuzis. E mais uma legião de candidatos atrás de quinze minutos de glória na televisão.

Diz o velho provérbio árabe que bebe água limpa quem chega primeiro na fonte. Talvez por isso Marcelo Crivella se encontre, esta semana, rezando em Jerusalém.  E João Dória Júnior,  ampliando o número de empresários em resorts nas praias da Bahia.