Por Elio Gaspari / Folha

Estima-se que 17 milhões de eleitores poderão decidir seu voto na última semana. Disso resulta que o desempenho de Lula e Bolsonaro no debate da Globo será decisivo. Os estrategistas dos candidatos dizem que nas cartucheiras não há balas de prata. Tudo bem, mas, se as tivessem, não avisariam.

Seja qual for a opinião que os eleitores têm de Lula ou de Bolsonaro, as candidaturas estão demarcadas com uma clareza nunca vista. Ambos governaram o país e mostraram a que vieram.

SEM PLANOS – O mínimo que se pede a ambos é que apareçam nos debates sem o espírito dos ringues de MMA. Até hoje nenhum dos dois apresentou ideias ou projetos para um país que está andando de lado há quase uma década, com nove milhões de desempregados.

O comissariado petista zanga-se quando Lula é cobrado por clareza nessa questão. Já o entorno de Bolsonaro oferece um tênue sinal de que, se Paulo Guedes quiser, irá embora. Ele não há de querer, mas, se isso acontecer, coisa melhor não virá.

A falta de ideias embaralhou a disputa de tal forma que Bolsonaro acusa Lula de ter na Venezuela um farol, mas, olhando-se para os últimos meses de seu governo, ele ficou parecido com o finado Hugo Chávez. Noves fora sua cooptação de militares e PMs, basta lembrar sua generosidade fiscal, bem como a agressividade com que desafia o Judiciário.

COMPROMISSOS – Uma boa ideia foi pedir aos dois candidatos que, durante um debate, assumam compromissos de não mexer na estrutura e na competência do Supremo Tribunal Federal. Quem não quiser assumir compromisso, aproveita a oportunidade e dá suas razões.

Elegância não significa fraqueza, e agressividade não significa sinceridade. Para ilustrar essa diferença pode-se ir ao debate anterior, no primeiro turno.

O que foi preferível ouvir: Lula, zangado, chamando o possível sacerdote Kelmon de “impostor”, ou Soraya Thronicke, que o classificou como “padre de festa junina”?