A banalização do processo eleitoral está enraizada no meio político brasileiro – e conta com suporte mesmo de gente conhecida. A modelo Suellem Aline Mendes Silva, que se apresenta na TV como Mulher Pêra (PTN), ganhou a chancela do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que pede votos para a decotada no YouTube. “Quero recomendar a Mulher Pêra”, diz ele. “É muito importante que possamos ter essa mulher como candidata eleita para o Congresso.” Sério, senador?

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Alguns dos famosos que tentam usar a fama como trampolim eleitoral. O estilo está enraizado e é bem-aceito entre os políticos tradicionais

No Rio de Janeiro, o ex-jogador Romário concorre a uma vaga de deputado federal e apelou para o corpão. Anda cercado por um grupo de mulatas fornidas que distribuem santinhos com um argumento inusitado: “Vote no Romário porque ele já é rico e não vai roubar”. Pedro Manso, imitador que fez sucesso se apresentando como Faustão, tenta uma vaguinha na Assembleia vestido e falando como… Faustão. “Ô-loco, meu! Pedro Manso para deputado!”. Na linha funk-favela concorre Tati Quebra Barraco, autora do hit “Dako é bom”, que fala numa marca de fogão. Os famosos tentam se eleger apoiados no argumento da fama. O ex-pugilista Maguila diz que vai “lutar em Brasília”. O ex-jogador de futebol Marcelinho Carioca quer “jogar no time” dos eleitores. Raul Gil tira o chapéu para seu filho, candidato a deputado federal. Os irmãos do grupo KLB defendem “a união da família”. O que promete o estilista Ronaldo Esper? “Agulhar os políticos”…

Fábio Wanderley diz que não é necessário deixar a política apenas aos políticos. Muitos brasileiros já fizeram carreira pública depois de outra profissão. Fernando Henrique Cardoso era professor. Lula, um famoso metalúrgico.“É legítimo que um humorista ou uma modelo se candidatem”, diz ele. “O problema é o discurso infantilizado.”

Victor Ferreira com Nelito Fernandes – Revista Época