Deu na coluna Pinga Fogo, com Ana Lúcia Andrade

Já é comum, é verdade, nas disputas proporcionais (a deputado ou a vereador, quando a eleição é municipal), a forte presença de candidatos-personagens que arrancam gargalhadas quando o programa eleitoral entra no ar e, no final, ainda levam votos suficientes para chegar aonde pretendem: ter um mandato. Nessa eleição não é diferente. Uma das piadas desse espetáculo circense em que se transformou parte do processo eleitoral é o candidato a deputado federal por São Paulo, o comediante Tiririca, que nem mesmo sabe o que faz o detentor do cargo para o qual disputa. Mas não por isso: ele será eleito e ainda levará à reboque dezenas de outros de seu estirpe.

Não dá para desconhecer essas reproduções deformadas como um absurdo do processo eleitoral brasileiro. Alguns até podem nivelar essa tropa aos políticos que, aparentemente, não trazem os traços de uma caricatura mas são tão danosos quanto para a política. Mas não se pode julgá-los por essa comparação. Não ajuda, ao contrário. Essa zombaria precisa ser assim encarada e receber de você, eleitor, a resposta merecida.

Mesmo que a “bancada da piada” não eleja lá um número tão expressivo de parlamentares – a média dos que chegam lá não costuma ser tão expressiva num universo de 513 – ainda assim, eles danificam o processo eleitoral. Porque desviam o exercício do voto para o caminho da manifestação de protesto, de desengano. Não o da busca por quadros que valham um voto. E eles existem.

Essa atitude indecorosa de quem brinca dessa forma com a política tem de ser rejeitada na urna. E como conta com a cumplicidade dos partidos políticos, esses, sobretudo, merecem ser punidos. Neles está a raiz desse espetáculo circense que há tempo compromete o processo eleitoral.