As excelências que têm assento no Congresso Nacional definitivamente não se emendam. Encenam um jogo que, ao contrário do popular programa criado pelo apresentador Silvio Santos, não tem humor nem pegadinhas: custa caríssimo ao país e joga no lixo qualquer possibilidade de se recompor a imagem do Parlamento, instituição símbolo da democracia.

Sem cair na tentação da generalização e consequentemente no erro, já que há deputados e senadores que honram as credenciais que receberam do povo, o fato é que a cada dia o Legislativo nos reserva surpresas, a maior parte delas digna de escárnio.

Não bastasse o auto-aumento de 63,83% que deputados e senadores se concederam no apagar das luzes de 2010 e as dezenas de gazeteiros que sempre conseguem abonar suas faltas, agora eles arrumaram um jeito de ampliar o fundo partidário em R$ 100 milhões. Um reajuste de 62%, pré-negociado para quitar dívidas das campanhas eleitorais do ano passado. Uma festa.

Tem mais para todo mundo: o PT vai receber R$ 42,8 milhões, um adicional de R$ 16 milhões em relação à proposta original do governo; o PMDB, R$ 33 milhões, R$ 12, 4 milhões a mais; e o PSDB, R$ 30,3 milhões, R$ 11, 4 milhões acima da previsão inicial, que cobre integralmente o vermelho de R$ 9,7 milhões que o tucano José Serra deixou. O extra também resolve se não toda, parte significativa dos R$ 27 milhões devidos pela campanha de Dilma Rousseff.

Descaradamente, ainda tentam dizer que a bolada com a qual premiaram seus partidos nada tem a ver com dívidas herdadas das campanhas. “A verba será usada em diferentes projetos do partido”, disse o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Mas não soube citar um único exemplo de projeto do maior partido de oposição do país, até porque, como é sabido, não há projeto algum em gestação. E acrescentou disparates como “quanto mais recurso público, melhor”, porque “os partidos ficam menos sujeitos a pressões”, seja lá o que isso quer dizer.

As receitas extras foram tão generosas que podem até retardar a morte anunciada do DEM, que acaba de abocanhar mais R$ 7,3 milhões, elevando sua cota no Fundo Partidário de R$ 12 milhões para R$ 19,2 milhões.

A conta? O contribuinte paga. E, mais uma vez, enganado, pois não foi consultado, em momento algum, se apóia ou não o financiamento público para campanhas eleitorais. O tema é polêmico, longe de ser consensual. Mas para que discuti-lo se já existe na prática e ainda pode ter valores fixados, sem qualquer pudor ou controle, a bel prazer dos parlamentares?

E não pára por aí. No Congresso, que neste mês de recesso remunera suplentes para nada fazer, há projetos de reajuste de subsídios para a contratação de terceiros, do valor da cota de transporte, de utilização de serviços gráficos, etc, etc. Cada vez fica mais difícil sair da lama.

Fonte: Mary Zaidan