A Igreja está em crise. Isto parece evidente. E toda instituição, quando se encontra em crise, toma curso improvável. É o que acaba de ocorrer. Por três razões.

A primeira razão: os 115 cardeais foram buscar “no fim do mundo” o novo bispo de Roma, como disse o Papa recém escolhido. E mais: um jesuíta. O convencional seria que escolhessem o cardeal Scola. Ou um europeu. Mas deu um sul americano.

Atravessar o Atlântico significou para a Cúria uma viagem inédita. Que busca inovar caminhos diante dos perigos que rondam a Igreja. É uma ousadia política feita de angústia institucional. No início do século XX, a Europa tinha mais do dobro de católicos comparada à América Latina. No começo do século XXI, a situação é inversa.

Segunda razão: escolher um jesuíta tem também significado. Os jesuítas são preparados intelectualmente. E são duros no código moral. Quando a crise ética atingiu a Igreja, no século XVI, ensejando o surgimento da reforma protestante de Lutero, os jesuítas já alertavam a instituição sobre os riscos que ela corria. Agora, no meio de outra crise, um jesuíta é convocado a recuperar o perfil social Igreja.

São sinais de mudança. Não no sentido doutrinário, mas no rumo político. Não no nível dogmático, mas na abordagem estratégica dos problemas do Catolicismo. Há uma nova geopolítica em Roma.

Jorge Mario Bergoglio é pessoa simples. Quase sempre prepara sua própria comida. E é homem que gosta da companhia do povo. Costumava andar de ônibus em Buenos Aires. Tem elevado sentido da prioridade do combate à pobreza. Ele afirmou: “A pobreza é imoral”.

O próprio escolhido deu a terceira razão do curso inesperado da Igreja: o título papal. Francisco. Esta opção carrega uma definição evangélica, traz um conceito emblemático. Francisco lembra São Francisco de Assis. Que recebeu sinal de Deus para reconstruir a Igreja. Ele começou a reparar os tijolos de sua diocese. Mas, logo foi retificado pela vontade divina: a mudança desejada não era física, era moral. E Francisco de Assis promoveu uma revolução de hábito religioso.

Esta é a cruz do papa Francisco. Mas é também sua força.

Por : Luiz Otávio Cavalcanti