Por Gaudêncio Torquato

 

Ao lembrar que a juventude é a “janela pela qual o futuro entra no mundo”, o papa Francisco quis ressaltar o motivo de sua peregrinação – a Jornada Mundial da Juventude – e também alertar os políticos de que aos jovens devem ser dadas condições para exercer de maneira condigna seu papel na sociedade. Um recado adequado no momento oportuno para a plateia certa. A população jovem brasileira soma 51 milhões de pessoas, sendo, nos últimos tempos, o motor da mobilização social em grandes e médias cidades do país.

O fato é que aos jovens não tem sido oferecido espaço para participação mais efetiva no processo político-institucional. O que os afasta da esfera política são as formas tradicionais de representação, o modus operandi dos atores, as ações e as atitudes escandalosas que sujam a imagem dos representantes nas instâncias federativas.

Pesquisa feita por Época/Retrato mostra que apenas 1% dos jovens são filiados a partido político. Outro mapeamento, feito pelo Centro de Pesquisas do Instituto Paulista de Adolescência, revela que menos de 20% dos jovens de 16 a 18 anos possuem título de eleitor. Não é de surpreender que as temáticas de interesse dos jovens, a partir da educação, ficam longe das pautas congressuais. Quando o assunto é pertinente – como a questão dos cursos de medicina –, a voz da estudantada avoluma-se em protestos.

Na verdade, as políticas públicas voltadas para as causas dos jovens são pontuais e segmentadas. É o caso do Bolsa Família. Não se nega que milhões de brasileiros deixaram o território da miséria, porém os jovens da classe média tradicional não foram contemplados com programas orientados para o aperfeiçoamento de suas condições educacionais e profissionais, o que acaba contribuindo para adensar a contrariedade no meio da pirâmide social.

OS JOVENS NAS RUAS

Sem comandos de líderes tradicionais, os jovens acorrem às ruas e dão forma a um novo polo de poder, na sustentação da hipótese de que, “se o poder centrífugo não atende o clamor das turbas, o poder centrípeto o empurrará”. O segmento jovem, ademais, é o que possui visão mais pragmática da política e entende que esta se desvia de sua finalidade básica – atender o bem comum. Tem faltado, isso sim, compreensão sobre o papel da juventude na sociedade.

Entender o jovem exige inseri-lo no quadro de transformações ocorridas nas últimas décadas. Os países romperam fronteiras, integrando-se aos mercados globais e acompanhando a evolução tecnológica. O capital físico cedeu lugar ao capital humano. Essa é a nova ordem que instiga os jovens. Quando falta a matéria-prima desse novo ciclo, a frustração se estabelece. Da frustração para a revolta, o passo é curto, a rebeldia se impõe. Não estão os jovens preocupados com ideologia, direita ou esquerda. A preocupação que os move agrega coisas como educação, emprego, melhoria dos serviços públicos. Reivindicam condições para competir em um mercado cada vez mais exigente.

Se nossa geração não souber abrir espaço para a juventude, a janela do futuro ficará fechada. Abram os ouvidos, políticos e dirigentes, à profecia desse jesuíta, o papa Francisco. (transcrito de O Tempo)