Uma definição eterna: a política é como a nuvem

Por Pedro do Coutto

A frase, buscando uma imagem poética, foi de autoria do senador Magalhães Pinto, que também governou Minas Gerais, derrotando Tancredo Neves nas urnas estaduais de 1960. É absolutamente verdadeira: como a nuvem no espaço, a política muda de forma e de direção a todo instante. Em muitos momentos e situações torna-se imprevisível. Alguém poderia, por exemplo, imaginar a renúncia do presidente Jânio Quadros? O impeachment de Fernando Collor? Os dois exemplos seriam suficientes, não fosse a matéria de Sílvia Amorim e Gustavo Uribe, O Globo de quarta-feira, anunciando a movimentação de José Serra procurando ao mesmo tempo o PV, o PSD e o PPS na busca de uma legenda para tentar uma terceira vez ser candidato à presidência da República na sucessão de 2014. Seu prazo não é longo.

Dando como perdida a hipótese de vir a ser escolhido pelo PSDB, o ex-governador paulista precisa filiar-se até 5 de outubro, um ano antes das eleições como obriga a lei eleitoral. Pelo PSD de Gilberto Kassab é difícil, já que o partido integra o governo Dilma Rousseff. Afif Domingos é o titular da pasta da Pequena e Média Empresa.

Mas ele, se chegar às urnas, tira voto de Aécio Neves, que parece absoluto entre os tucanos. Pode surgir assim uma nova realidade, inesperada, como a reação do governador Tarso Genro, do PT gaúcho, que afirmou ao repórter Flávio Ilha, também de O Globo, que o PMDB tem criado mais problemas do que fo9rnecido soluções para a presidente da República. Se a aliança PT-PMDB vai permanecer em 2014, Tarso Genro condicionou ao desempenho do PMDB no Congresso Nacional. Além disso, há os que temem o desgaste da legenda pemedebista principalmente no Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país e dos grandes estados o único pela legenda que foi de Ulisses Guimarães e Tancredo Neves.

A tradição do partido dissolve-se no passar dos fatos. Em vez dos aplausos de ontem, as vaias das ruas de hoje. Era impossível prever o fenômeno. Mas ele aí está. Tempo de recuperação existe. Sem dúvida. Mas para isso é indispensável que gestos concretos substituam as palavras. Prometer é fácil. Realizar é que é o problema.

FALTAM RESPOSTAS

Há uma exigência de respostas efetivas e urgentes, uma vez que a voz das ruas parece ter cansado de esperar e por isso mesmo passou a esperança vaga à cobrança concreta. Nunca a realização de pe4squisasde opinião pública tornou-se tão importante como agora à distância do desfecho eleitoral. Afinal de contas, é básico saber o que a população deseja. Não apenas mais saúde, educação, alimentação, transporte, saneamento. Todos esses fatores são prioritários. Porém qual o mais prioritário de todos, já que todas as caminhadas têm de começar de algum ponto, de algum lugar. Ninguém se iluda: se os governantes não derem respostas substantivas, não vão conseguir iludir mais a população.

O povo sentiu a sua própria força nas ruas e nas praças, sentiu a extensão de seu próprio ímpeto e – mais importante4 ainda – percebeu que somente com ímpeto e coragem conseguirá obter êxito nas suas reivindicações legítimas. Não depredando, quebrando, saqueando, destruindo, mas, ao contrário, construindo pacificamente uma nova consciência social no país.

PAs próximas pesquisas se forem elaboradas vão revelar clara e objetivamente as tendências da opinião pública. Elas estão pendendo para uma direção derrapante para os governantes. Para inverter a direção é, antes de mais nada, indispensável mudar o rumo das coisas: deixar a promessa vaga e substituir a imagem por ações concretas.