Por Murilo Rocha

Apesar do momento de comoção e tristeza, são inevitáveis o debate e as dúvidas sobre os rumos da eleição ao Planalto diante de uma morte tão trágica e prematura como a do candidato do PSB à Presidência, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, 49. O presidenciável, conhecido pelo poder de articulação e pelo bom trânsito entre PSDB e PT, oscilava entre 6% a 11% nas pesquisas de intenções de voto, mas havia a expectativa de um crescimento após o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, com a presença de sua vice, a ex-senadora Marina Silva.

Mesmo se não avançasse para o segundo turno, Campos era considerado peça-chave para as duas campanhas, pois o seu apoio poderia ser decisivo em uma segunda etapa. Por isso, ele era tão cortejado por Aécio e também por Dilma, por meio da interlocução com o ex-presidente Lula, de quem Campos foi ministro.

Com sua morte, o cenário está radicalmente alterado. Marina Silva, mesmo muito abalada pela perda do colega de chapa, será naturalmente conduzida à candidatura. E uma candidatura tendo forçosamente uma nova perspectiva. Marina já concorreu à Presidência, em 2010, teve quase 20 milhões de votos (19,3%), e agora, além desse recall eleitoral, conta com mais um drama em sua trajetória. Será impossível para o eleitor olhar para Marina e não se solidarizar com ela. A campanha da ex-senadora está, involuntariamente, cercada por essa aura de morte e esperança, deixada pela tragédia de Eduardo Campos.

MUITAS POSSIBILIDADES

Em relação às campanhas de Dilma e Aécio, são muitas possibilidades. Em caso de segundo turno entre os dois, há uma vantagem de Dilma, pois Marina, por mais de uma vez, já deu provas de sua determinação em não apoiar o PSDB. Se irá apoiar Dilma, não se sabe. Em 2010, não apoiou e, caso mantenha a neutralidade, favorecerá quem estiver na frente (hoje seria a petista).

No entanto, há quem veja a possibilidade de Marina Silva crescer, e muito, ainda no primeiro turno. Apesar de improvável, Marina poderia roubar votos ainda não consolidados de Dilma – ela seria uma alternativa ao PT para quem não vota de forma alguma no PSDB –, além de abocanhar uma parcela significativa de indecisos.

Apesar de ainda mantidos em sigilo ou abafados em respeito à tristeza e ao impacto da morte do presidenciável do PSB, esses cenários já estão sendo articulados e devem se desenhar rapidamente. A propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV começa terça-feira, e faltam menos de dois meses para o pleito.

O PSB e Marina terão cinco dias para tentar absorver a dor pela perda de Campos e gravar novos programas com propostas próprias e ao mesmo tempo alusivas a uma herança do ex-governador de Pernambuco. (transcrito de O Tempo)