Por Carlos Newton

No desespero com a progressiva decadência dos três poderes da República, muitos brasileiros defendem uma renovação radical da classe política. Uns pretendem invalidar as eleições através do voto nulo ou em branco, outros defendem a abstenção e há também quem sugira que não se reeleja nenhum político, votando-se apenas em quem jamais disputou eleição.

Alguns acham que, se a maioria anular o voto, votar em branco ou se abster, a eleição será automaticamente invalidade, mas isso não é verdade. Nenhuma eleição jamais será invalidada por votos nulos, em branco ou abstenção massiva. Se houver apenas um voto, ele será válido e o resultado da eleição estará confirmado.

Na forma da lei, infelizmente a nulidade da votação somente ocorre em casos muito especiais, com ocorrência de fraude ou erro essencial de organização.

 

UMA DECEPÇÃO ENORME

 

Entende-se perfeitamente a decepção desses brasileiros. Realmente, é muito duro suportar tanta falta de espírito público, tanta corrupção e tanta impunidade, em meio à progressiva segregação de grande parte da população brasileira, que necessita dos serviços públicos de saúde, educação, saneamento e transportes, mas continua eternamente desassistida.

Veja-se o caso da saúde pública, por exemplo. Os governantes conseguiram dividir os brasileiros em duas classes – os que têm planos de saúde e os que não têm. Mas há, ainda, mais uma subclasse, formada pelos segurados de planos de saúde que não funcionam, fazendo com que o suposto beneficiário acabe tendo de recorrer aos hospitais públicos.

Na educação, formaram-se as mesmas classes, dividindo os brasileiros entre os que têm escola particular e os que necessitam da escola pública, havendo também a subclasse dos que se sacrificam para colocar os filhos em colégios particulares que também quase nada ensinam.

 

REALIDADE MASSACRANTE

 

É diante desta realidade incontestável e massacrante que muitos brasileiros perdem a confiança nas eleições, por entenderem que votar não significa nada. É verdade, muitas eleições não mudam nada, mas não se pode aceitar esse posicionamento autodestrutivo de brasileiros conscientes, porque a eleição é nossa única arma.

Se os brasileiros conscientes desistem de votar, os únicos beneficiados são os políticos profissionais, que já têm seus feudos. Quando votamos nulo, em branco ou quando deixamos de votar, os corruptos ficam cada vez mais fortalecidos.

Por tudo isso, fica claro que os brasileiros conscientes não podem se omitir nas eleições. Pelo contrário, precisam participar e influir para que os melhores candidatos (ou os “menos piores”, como diz o comentarista Théo Fernandes) sejam eleitos. Pensem nisso.