Por Carla Kreefft

Dilma Rousseff volta ao trabalho enfrentando pressões. Pelo andar da carruagem, ninguém vai aliviar. Mas não poderia ser diferente. Ela perdeu respaldo político nas urnas. Ter um pouco mais de 50% dos votos válidos é pouco para o vitorioso. Ter quase 50% dos votos é muito para o derrotado, o que implica crescimento da oposição, mas significa também mais dependência dos aliados.

Em outras palavras, a presidente terá que negociar mais. E o seu carrasco será mesmo o PMDB. O partido sabe, como nenhum outro, reconhecer os momentos em que tem o passe valorizado. Vai cobrar o preço, e, provavelmente, inflado.

Entretanto, dificilmente essa situação deve ser uma constante. Daqui a um tempo, quando boa parte das demandas parlamentares estiver resolvida, o clima de paz deve ser restabelecido. Não é possível para um aliado viver em clima de guerra o tempo todo. Também não é possível para o governo federal permitir que a animosidade seja uma constante. E o PMDB sabe disso. O partido conhece o momento de tensionar e distensionar.

Dilma terá dificuldades, mas a situação somente terá contornos graves se ela não conseguir atender o que for considerado fundamental. Contempladas as demandas mais importantes, a presidente deve criar condições para também dizer “não” aos caprichos. O que isso tem de diferente em relação às negociações entre o PMDB e o governo federal em momentos anteriores? Nada além da intensidade. Agora o limite entre o fundamental e a perfumaria foi alterado. Algumas perfumarias terão que fazer parte do que é fundamental.

 

JOGO DURO

É um momento crucial para testar a capacidade da presidente petista, que já é conhecida por fazer “jogo duro” e por não ceder facilmente. E aí vem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a ideia de permanecer mais perto do governo federal no segundo mandato. Essa não é um boa ideia para ninguém. Para Dilma é como passar um atestado de incompetência, o que municia a oposição, que já está fortalecida. E para Lula cria um impasse muito forte. Se ele próprio não confia em sua afilhada, quem vai confiar? E como será em 2018, quando outro nome terá que ser lançado? Quem apostará nesse novo apadrinhado?

Uma hipótese, entretanto, precisa ser considerada. Lula, embora negue o tempo todo, pode estar pensando em ser ele próprio o candidato a presidente. Aí há motivos para tanta proximidade. Essa possibilidade pode ser boa para o Brasil? Ainda é muito cedo para responder a essa pergunta, mas uma coisa é certa. PT e PSDB têm planos para longo prazo. Nenhum dos dois partidos deixará de começar a pensar a eleição de 2018 imediatamente. Na verdade, as peças já estão no tabuleiro de xadrez, um jogo difícil que exige inteligência. (transcrito de O Tempo)