Completam-se 50 anos da mais acirrada disputa pela presidência da Câmara, que agora ameaça repetir-se. Naqueles idos, desfechado o golpe militar, era evidente a má vontade do presidente Castello Branco com o PSD, então o maior partido nacional, que apesar de agredido com a cassação de Juscelino Kubitschek, acomodara-se e até apoiava o governo. Majoritário, o PSD tradicionalmente elegia os presidentes das duas casas do Congresso, até mantendo os mesmos personagens: Raniéri Mazzilli, na Câmara, e Auro de Moura Andrade, no Senado, novamente candidatos.

O primeiro marechal-presidente entendeu chegada a hora de virar o jogo e pinçou um candidato na UDN, partido solidário ao regime: Bilac Pinto, utilizando os expedientes de sempre, trocando favores por votos, inclusive no PSD. Resultado: ganhou o candidato do palácio do Planalto, conseguindo rachar o PSD e acabando com sua hegemonia.

Cinco décadas depois, repete-se a situação. O PMDB, que também apóia o governo, é o maior partido e tem um candidato considerado vencedor. Só que o marechal de saias instalado na presidência da República não gostou. Tem para Eduardo Cunha os mesmos sentimentos de desconfiança que Castello Branco tinha para Raniéri Mazzilli. Assim, mobilizou o PT, cada vez mais parecido com a extinta UDN. Está lançado Arlindo Chinaglia. Lá, como cá, vale tudo. Mesmo sem atos institucionais, o governo começa a comprar votos prometendo favores e benesses. Atingirá o PMDB como antes foi atingido o PSD: pressões, promessas, intimidações. Saberemos do resultado em fevereiro, mas a registrar está a evidência da mesma guerra sem quartel entre duas forças que apóiam o governo.