Por Pedro do Coutto

A presidente Dilma Rousseff – revela a repórter Andreia Sadi, Folha de São Paulo de segunda-feira – decidiu cancelar sua participação no programa organizado pelo PT, sob o motivo preponderante de não desejar, na fase atual, se vincular à imagem desgastada do Partido dos Trabalhadores, agravada com a prisão do ex-tesoureiro Joao Vacari Neto. O tempo que caberia à presidente da República foi ocupado pelo ex-presidente Lula, acrescenta a matéria.

Com isso, torna-se flagrante a divergência essencial entre Dilma Rousseff e a agremiação, com a primeira querendo distância da segunda. Para Andreia Sadi, figuras dos bastidores petistas interpretaram a decisão como uma tentativa da chefe do Executivo se descolar da legenda, ao mesmo tempo deslocando o relacionamento para segundo plano, um espaço mais distante do centro do poder.

Assessores da presidente, inclusive, disseram que a ausência é uma forma de blindar a presidente da República, preservando sua imagem, pessoal. Observaram também que, nesse instante, Dilma Rousseff somente deve aparecer em agendas positivas, como anúncios de execuções de obras e projetos federais. Sua reaparição pública precisa ser medida e analisada para não causar efeito contrário e agravar – reconhecem – a situação do governo em meio à crise econômica e política.

CAIXA DE SURPRESA

O afastamento entre Dilma Rousseff e o PTsempre pareceu impossível sob o ângulo político, mas agora, como se constata, transformou-se em, realidade. A política, ao mesmo tempo ciência e arte, reserva sempre uma caixa de surpresas aos que propõem a analisá-la. É indispensável traduzir constantemente seus episódios, seus lances, suas contradições, seus antagonismos. Como definia o saudoso Antônio Houaiss, tem que se distinguir entre o significado e o significante.

Este lance de choque entre Dilma e seu próprio partido, por exemplo, deve-se admitir o reflexo que poderá ter na votação do ajuste fiscal na Câmara dos Deputados, ampliando a divisão da legenda na hora de votar o projeto elaborado pelo ministro Joaquim Levy, um personagem cada vez mais enigmático da cena brasileira.

LEVY E OS GOVERNOS SUBNACIONAIS

O que são governos subnacionais? Francamente não sei o que sejam – mas a expressão foi usada pelo titular da Fazenda em entrevista a repórter Alessandra Duarte, O Globo, também edição de segunda-feira, sobre a passagem dos 15 anos da entrada em vigor da lei de Responsabilidade Fiscal. Avaliar os gastos públicos, disse ele, é o próximo passo do governo, como se alguma etapa já estivesse resolvida e não houvesse qualquer obstáculo pela frente.

Depois de abordar teoricamente a questão, Joaquim Levy afirmou exatamente o seguinte: “As principais sanções da LRF têm um caráter institucional e democrático muito forte. Por exemplo , quando ela proíbe o governo federal de fazer transferências voluntárias para governos subnacionais que estejam descumprindo as leis. A LRF força o gestor a fazer uma decisão ética, tornando-se responsável diante de seus eleitores. Além disso, penaliza os indivíduos, impedindo-os de continuar a exercer cargos públicos onde sua conduta poderia continuar causando prejuízos à população”.

Como se vê há necessidade de uma tradução para que a opinião pública entenda. Ou será que ele falou justamente para não ser entendido?