Por Pedro do Coutto

Excelente a entrevista de Maurice Levy, que veio ao Brasil concluir uma fusão da DPZ com o grupo Taterka, ao repórter Ronaldo D’Ercole, O Globo de sexta-feira, sobre a presença no mercado de comunicação dos jornais tradicionalmente impressos e a evolução veloz da internet. Com a fusão, surgiu a DPZ&T, o terceiro maior grupo publicitário do mundo, acrescentou Ronaldo D’Ercole no texto publicado. Para Maurice Levy, um meio não prejudica e sim acrescenta ao outro. Na minha visão baseada em quase 60 anos de jornalismo, o editor francês tem razão.

Pois até hoje, ao longo da história universal, um sistema de arte ou de comunicação não substituiu outro. Assim, a imprensa de Gutemberg não acabou com a produção de livros, cada vez maior, o cinema não acabou com o teatro, o rádio não abalou os jornais, a televisão não causou desabamento do rádio, a internet não vai substituir os jornais. Ao contrário. Cada etapa amplia uma sequência existente.

Não se trata de reduzir o avanço gigantesco da Internet, nem reduzir a revolução monumental que causou. Antes dela, havia os transmissores de informação, de um lado, os receptores de outro. Hoje, não. Basta possuir um computador ou celular para que cada um se transforme num transmissor de cultura, num comunicador, num ator das redes sociais. As redes sociais, inclusive, transformaram-se em centros e bases de pesquisas, a revelar as tendências e reações da opinião pública em todos os aspectos.

ESPAÇO ABERTO DEMAIS?

Mas como os transmissores individuais não se encontram vinculados a editores as páginas da informática tornaram-se um espaço aberto a todas as informações, impressões, opiniões, além das mistificações elaboradas pelos impulsos de pessoas que confundem seus desejos com a realidade dos acontecimentos. Por isso mesmo Maurice Levy levanta, na entrevista, um ângulo extremamente importante em torno da questão em foco. Sentindo a possibilidade de que mensagens postadas na internet partam de uma wishfullthink (confusão entre o desejo de que algo aconteça e o acontecimento que de fato ocorreu, expressão do fenômeno mais comum do que parece), uma parcela muito grande de leitores toma conhecimento da versão original pela internet, mas à noite assiste aos telejornais em busca da respectiva confirmação e, no dia seguinte, um detalhamento maior nas páginas impressas.

A internet excita, mas a satisfação completa só vai ser alcançada nas tradicionais páginas que Gutemberg criou por volta de 1500 e Marshall MacLuhan as transformou em marco da história universal, superando objetivamente as eras do relato e do registro.

DOIS EXEMPLOS

Se focalizarmos as duas maiores tragédias da humanidade, a crucificação de Jesus e o nazismo, vamos perceber a diferença. A crucificação é um relato, não havia imprensa, não havia fotografia. O nazismo é um registro: já existiam jornais, fotografias, filmes. Inclusive vale acentuar a afirmação do general Eisenhower, depois da tomada dos campos de concentração nazistas, dirigida aos repórteres: fotografem e filmem tudo para que, amanhã, não apareça alguém de má fé capaz de negar tudo o que de trágico aconteceu.

Assim, dentro do panorama traçado por Maurice Levy, a internet não substitui os jornais e revistas. Pelo contrário. E uma forma de excitação que destaca os temas, mas não esgota seus conteúdos. Nem consolida as informações transmitidas. Os jornais serão, para sempre, testemunhas vinculadas a internet, de forma eterna. A internet é fundamental e essencial. Os jornais e revistas, também.