Pedro do Coutto

Reportagem de Daniela Lima, Bela Megale e Marina Dias, Folha de São Paulo de sexta-feira, revelou que os ministros Edinho Silva e Jacques Wagner, e também Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, apoiam a realização de diálogo entre os ex-presidentes da república com o objetivo de causar pelo menos alguma descompressão à crise política que está envolvendo o governo e o país. A própria presidente Dilma Rousseff estaria favorável à perspectiva. Sinal claro de que está partindo em busca do tempo perdido e da estabilidade que deveria ter sido proporcionada pelas urnas.

Deveria ter si proporcionada pelas urnas de outubro, mas foi evaporada nas ruas de 2015. Os compromissos assumidos na campanha vitoriosa foram levados pelo vento. Seus eleitores estão sofrendo a sensação de terem sido iludidos. Daí a busca do tempo perdido. Na última obra da série de Marcel Proust o tempo foi reencontrado. Mas será agora? Não depende de tentativas de aproximação entre os vencedores do passado. Depende da voz das ruas do presente. Torna-se indispensável Dilma Rousseff pelo menos tentar contato, hoje, com o eleitorado recente de ontem. Seis meses em política não são nada para construir. Porém formam prazo mais que suficiente para destruir.

Aliás, como todos sentem e sabem, é muito mais fácil destruir do que construir. Bandos de ladrões, por exemplo, destruíram o crédito e sobretudo a capacidade de investimento da Petrobrás, a maior empresa do país. O que, afinal, podem propor FHC e Lula? Falando francamente, apenas prometer empenhar-se contra possíveis investidas parlamentares pelo impeachment de Dilma Rousseff, principalmente na hipótese de o TCU decidir por aconselhar o Poder Legislativo a rejeitar as contas do ano passado do Poder Executivo. Esse é um dos problemas, mas está longe de ser o único. Há diversos outros pelo caminho.

PROCURADOR-GERAL

Um dos problemas se refere à recondução de Rodrigo Janot ao cargo de Procurador Geral da República por um mandato de mais dois anos. Haverá eleições entre os integrantes da PGR. Muito difícil não seja ele o mais votado. Os procuradores necessitam dar à opinião pública uma expressão de unidade e apoio ao chefe do Ministério Público. Do voto fechado o desfecho seguirá para a mesa do Planalto. Um dilema para Dilma. Se um lado Rousseff será pressionada por Lula e parte comprometida do PT para não sancionar a decisão, de outro, estará atenta à opinião pública.

Entre uma corrente e outra, um abismo desafiando a caneta da presidente. Que poderá ela fazer? Não será fácil buscar o reencontro parcial com a sociedade. Mas para isso terá que se afastar definitivamente da corrupção que abalou seu mandato e tragará seu governo, na hipótese de não reconduzir Janot.

Os acusados por ele e investigados pelo Supremo Tribunal Federal vão se mobilizar em sentido contrário. Nesse segundo desdobramento, o impeachment ressurge como instrumento voltado na tentativa de paralisar seu gesto. Dilma Rousseff terá de optar. Para o momento que se aproxima, ela não possui campo de manobra. Terá que acolher entre um roteiro e outro. E são dois os caminhos à sua disposição. Terá que enfrentar o desafio.

MAIS PROBLEMAS

Porém, além desse instante, existem outros problemas. Vamos citar somente dois: a elevação do desemprego, a redução da renda do trabalho, o projeto Joaquim Levy. O reencontro com as ruas depende de tudo isso. É a questão essencial, como escreveu o poeta na página da dúvida maior da existência.