Por Carlos Newton

Os jornais divulgam que, devido ao agravamento das denúncias sobre as contas secretas no exterior do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e de seus familiares, os principais partidos de oposição decidiram cobrar publicamente que o peemedebista se afaste da presidência da Câmara.

No sábado, nota conjunta divulgada por PSDB, DEM, PPS, PSB e Solidariedade defende o “afastamento do cargo de presidente até mesmo para que ele possa exercer, de forma adequada, seu direito constitucional à ampla defesa”.

Cunha se tornou a ovelha mais negra do rebanho e ninguém mais se arrisca em defendê-lo, não importa se o partido é de situação ou de oposição. Mais alguns dias e até o PMDB estará pedindo que ele renuncie à presidência da Câmara.

APARÊNCIAS, NADA MAIS

Mas nem o PMDB nem as oposições querem que Cunha se afaste. Pelo contrário, torcem desesperadamente para que ele resista a todas as pressões e provas que surgem contra ele, sua mulher e sua filha mais velha. É preciso que ele continue na presidência da Câmara, para comandar o espetáculo do impeachment da presidente Dilma Rousseff, que precisa ser conduzido com maestria para não dar errado.

O vice-presidente da Câmara é o veterinário Waldir Maranhão, eleito pelo PP maranhense. Como se sabe, o PP é o partido mais envolvido no escândalo da Petrobras, e o próprio deputado Maranhão está denunciado pelo doleiro Alberto Youssef. Em depoimento na CPI da Petrobras, ele disse que o vice-presidente da Câmara recebeu dinheiro oriundo de propinas pagas por empresas contratadas pela estatal, e o pagamento a Maranhão teria sido feito diretamente por Youssef.

UMA DERROTA

Na verdade, colocar Waldir Maranhão na presidência da Câmara seria uma derrota para o PMDB e os partidos de oposição. Não é nada fácil conduzir um processo de impeachment e Cunha está preparado e determinado a fazê-lo.

Esta semana, ele vai recusar o pedido apresentado pelo ex-deputado Hélio Bicudo, pela professora universitária Janaína Paschoal e pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr. É exatamente isto que o PMDB e os partidos estão esperando, para recorrer ao plenário e abrir o processo de impeachment.

O mais curioso é que o principal beneficiário de tudo será o próprio Cunha, que sairá da linha de fogo da imprensa, pois daqui para frente o assunto do dia será sempre o impeachment e o envolvimento dele na corrupção da Petrobras passa para segundo plano.