O governo passou o dia seguinte à prisão de seu líder no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), encolhido. Sem estratégia clara para reagir, não conseguiu mostrar que “a vida segue”, como pretendia. O Congresso tende, por inércia, a parar em quase tudo relativo à economia. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), até aqui arrimo legislativo do Palácio do Planalto, começa a dar sinais de distanciamento. A percepção geral é de que o melhor já passou e o pior ainda está por vir.

No radar do mundo político, a crise voltaria a dar o ar da graça a partir de fevereiro, mas a operação de quarta antecipou esse calendário.Antes de receber seus advogados na Polícia Federal, Delcídio dava sinais de que poderia colaborar com as investigações. Não se sabe se mudou de ideia ao ter contato com sua defesa.

A inédita prisão de um senador em exercício, o petista Delcídio do Amaral (MS), sob a acusação de atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato, espalhou apreensão em Brasília. Enquanto parte dos 37 políticos com foro privilegiado investigados pelo esquema temem ter o mesmo destino de Delcídio, outro grupo, os que ainda são aliados de Rousseff, sem falar do próprio Planalto, preveem dias difíceis com o desenrolar imprevisível da apuração e paralisia nas votações do Congresso consideradas urgentes para o Governo.

“Quem deve com certeza tem medo do que pode acontecer nos próximos dias. Esse não é o meu caso, mas sei que a cada dia o clima de suspense aumenta por aqui”, afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um dos deputados alvo da operação. “Aqui está um clima de cada um por si. Todos só pensam em salvar a si mesmo”, disse reservadamente outro parlamentar.

Há 13 investigados pela Lava Jato no Senado e 24 na Câmara, incluindo os dois presidentes de cada Casa, Renan Calheiros (PMDB-RN) e Henrique Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Todos contam os dias para terem seus casos concluídos pelo Ministério Público Federal, enquanto, no Planalto Central, ainda ecoam as palavras da ministra do STF Cármen Lúcia durante seu voto favorável à prisão de Delcídio. “Houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou num mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a ação penal 470 [o mensalão petista] e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece-se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça”, escreveu ela. O recado aos políticos foi direto: “Não se confunde imunidade com impunidade”. (Agência de Notícias)