Por Antonio Temóteo / Correio Braziliense

O Banco Central traçou um quadro dramático para a economia neste e no próximo ano. Mas nem isso impedirá a autoridade monetária de aumentar os juros a partir de janeiro para tentar conter a inflação galopante que terminará 2015 em 10,8%, mais do que o dobro da meta definida pelo governo, de 4,5%. O diretor de Política Econômica do BC, Altamir Lopes, deixou claro que a instituição se preocupará apenas em garantir que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue em dezembro de 2016 abaixo do teto do intervalo de tolerância, de 6,5%, e convirja para meta próximo de 4,5% em 2017.

Lopes foi além. Apesar de a presidente Dilma Rousseff cobrar, durante a posse do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, medidas para recuperar o crescimento, ele frisou que o BC cumprirá seu único mandato, o de assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda. O BC não está preocupado se a alta dos juros contribuirá para aumentar a taxa de desemprego, aprofundar a recessão e elevar a dívida pública, que já encosta nos 70% do Produto Interno Bruto.

Segundo Altamir, a taxa básica da economia (Selic) subirá quando o Comitê de Política Monetária (Copom) julgar necessário. Na opinião dele, usar as políticas de juros e fiscal de olho apenas no ritmo da atividade implica em um período mais longo de sofrimento ao país.

VAI ATÉ 15,75%

No mercado, os analistas estimam que a Selic, hoje em 14,25% ao ano, chegará a 15,75% até o fim de 2016. Isso, mesmo o BC projetando retração de 3,6% do PIB em 2015 e queda de 1,9% em 2016. Será a primeira vez, desde 1930 e 1931, quando o mundo estava em depressão econômica e o Brasil enfrentava um golpe político, que isso aconteceu.

A gravíssima recessão não impedirá que a inflação feche o próximo ano, pelas projeções do BC, em 6,2%. A chance de a carestia estourar o teto da meta está em 41%.