Via jornalista Ricardo Kotscho:

Quem pode prever como estará o Brasil no começo da próxima semana, no final do mês, no fim do ano? É muito duro viver assim, um tempo de muitas perguntas sem respostas.

Aconteça o que acontecer, uma coisa é certa: vivemos o final do ciclo chamado de “presidencialismo de coalizão”, um sistema político-partidário-eleitoral falido e apodrecido, baseado no “toma-lá-dá-cá”, que tornou o País ingovernável e nos levou à ruína econômica. E não há nada novo à vista no horizonte próximo.

Daqui a alguns dias, espero, não falaremos mais de Dilma e Cunha. Os dois antagonistas, que acabaram caindo juntos, serão páginas viradas na nossa história política, mas os estragos por eles causados ainda provocarão seus efeitos perversos por um bom tempo.

Falaremos então do que, de quem? Existe algum personagem novo no cenário capaz de nos inspirar o mínimo de confiança de que as coisas possam mudar, uma única ideia original que seja para começarmos a pensar na construção de um projeto nacional?

Depois da tragédia de Getúlio, em 1954, sucederam-no no cargo vários presidentes provisórios, que foram caindo um após outro, até que chegássemos a uma nova eleição. Foi eleito lembram quem? Juscelino Kubitschek, o ex-governador mineiro que tinha um ousado projeto de desenvolvimento, o “50 anos em 5”, baseado na industrialização e integração nacional, com a abertura de estradas e que culminou com a inauguração de Brasília.

Saímos direto da depressão para a euforia. Vivemos um período de paz e de muita esperança em dias melhores, voltamos a acreditar no Brasil. Aí elegemos o Jânio Quadros, que renunciou poucos meses depois; entrou o vice João Goulart, que foi derrubado por um golpe militar; caímos na longa noite da ditadura e lutamos muito para reconquistar a democracia, apenas três décadas atrás.

E o que sobrou? Para onde você olha hoje, o cenário é de desolação e incertezas sobre o futuro. Reconheçamos: não temos nenhum Juscelino na praça.

Quem é que ainda acredita em mudanças num governo liderado pelo conservador e inexpressivo Michel Temer, que pode começar ainda esta semana, sendo montado com as mesmas caras e os mesmos métodos que nos levaram a este estado de fastio e de anomia social?

Até os que jogaram tudo no impeachment de Dilma já estão desanimando ao ver os nomes até aqui anunciados, diante da notória incapacidade do novo presidente de diminuir o número de ministérios e formar uma equipe de “notáveis”, como podemos constatar no noticiário e nos editoriais da grande mídia neste final de semana.

Já não se trata mais de discutir se foi golpe ou não foi, se o STF agiu dentro das normas legais ao determinar por unanimidade o afastamento de Eduardo Cunha do cargo e do mandato, mas se o País pode ter um mínimo de governabilidade até 2018, seja quem for o presidente, mantido o atual sistema político.

Temo que não. A grave situação social provocada pelo desemprego ainda pode piorar muito antes de começar a melhorar, como apontam alguns indicadores econômicos. Não se trata de ser otimista ou pessimista, mas apenas de ser realista e andar pelas ruas para ver o que está acontecendo, não brigar com os fatos e não criar falsas ilusões.

A esta altura do campeonato, ao ver quem o cerca e com quem pode contar, o próprio Temer já deve estar arrependido do que fez para chegar ao poder a qualquer preço.

No prazo máximo de 180 dias, ao final do julgamento do processo de impeachment, quando Temer pode ser efetivado no cargo ou Dilma voltar à sua cadeira no Palácio do Planalto, como estará o País?