Por Arthur Cunha

No ocaso do seu conturbado mandato, permeado de denúncias de corrupção e tentativas frustradas de tirar o país da crise, o presidente Michel Temer (MDB) tem uma oportunidade de ouro para tentar melhorar um pouco o seu lugar nos livros de história do Brasil. Para isso, tem que descer do muro e tomar posição – uma postura que ele pouco adotou no seu período na Presidência. Temer precisa vetar o projeto de lei que aumenta em 16,38% os salários de suas excelências, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e dos membros da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Motivos para se posicionar contra esse escárnio não faltam. Além de provocar um efeito cascata, reajustando salários no Judiciário Brasil afora, o projeto é – para ser educado – uma falta de respeito ao “País dos desalentados”, onde uma grande parte da população sequer tem ânimo para procurar emprego. Atualmente, falta trabalho para 27,6 milhões de brasileiros, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), estudo trimestral feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Enquanto isso, suas excelências, os ministros do STF, avaliam que os R$ 33,7 mil de salário que ganham por mês é pouco. Querem ganhar 39,3 mil, fora as inúmeras benesses do poder que não aparecem no contracheque. Nada contra quem ganha bem. As pessoas precisam ser bem remuneradas pelo seu trabalho, evita até que caiam na tentação de se corromperem; sobretudo os “guardiões da Constituição”. Mas, em uma nação afundada na crise, chega a ser desumana essa medida aprovada pelo Congresso. Mas suas excelências não estão nem aí.

A bola está com Temer. O presidente, que dizem ter receio de sofrer alguma represália dos ministros do STF quando deixar o poder, caso não sancione a matéria, continua em cima do muro. Mas o tempo, neste caso, é inimigo do presidente. Do outro lado, uma imensa e crescente pressão popular contra esse acinte se faz perceber. Jair Bolsonaro – que não faz mais do que a obrigação de quem foi eleito pelo voto popular cansado do stablishment – já se posicionou contra a matéria. Fato que só aumenta a agonia do seu antecessor. Temer vai para lá e para cá sem tomar uma decisão. Mais uma batata quente na mão do emedebista.