Por Carlos Newton

Quando o desgoverno de Dilma Rousseff passou a fazer água e sobreveio a maior recessão de todos os tempos, iniciou-se um forte movimento a favor da intervenção militar. As redes sociais, sites e blogs transmitiam esse recado, que o então deputado Jair Bolsonaro soube interpretar ao se lançar candidato à Presidência da República. Na época, por um erro de avaliação, o pastor Everaldo Pereira, presidente do PSC (Partido Social Cristão), negou legenda a Bolsonaro, a quem tinha batizado nas águas do Rio Jordão em março 2017. Foi a maior mancada política da História Republicana.

Se tivesse apoiado Bolsonaro, hoje o PSC do pastor estaria no poder em Brasília, com a maior bancada da Câmara, dois governadores (Wilson Witzel, no Rio de Janeiro, e Wilson Lima, no Amazonas) e uma forte participação também no senado, com cinco representantes.

SEM PARTIDO – Conseguir uma legenda para disputar a eleição foi um drama para Bolsonaro, liminarmente recusado por todos os partidos evangélicos. No desespero, assinou compromisso de se filiar ao PEN (Partido Ecológico Nacional) que se empolgou e até trocou de nome, para Patriotas. Mas o acordo não foi em frente e Bolsonaro ficou novamente sem legenda. Por incrível que pareça, as pesquisas já o indicavam como o maior rival de Lula, mas nenhum partido se interessava, algo inexplicável. Até que, na undécima hora, surgiu o nanico PSL… E, depois houve o esfaqueamento, que ajudou muito a eleger o capitão.

Essa aversão dos partidos a Bolsonaro era justificada, porque todos sabiam que a verdadeira legenda dele era verde-oliva. Os políticos temiam um retrocesso institucional, que era justamente o objetivo de expressiva parcela da opinião pública, já farta de tanta corrupção e incompetência.

GOVERNO MILITAR – No final, o que hoje se vê é um meio-termo. Pela primeira vez, o país tem um governo militar eleito nas urnas. Como diz o ditado, Deus às vezes escreve certo por linhas tortas. O mais interessante é que os militares se garantem e acham que têm condições de levar o país a bom rumo.

Concordo que a incompetência dos civis foi tamanha que a expectativa é de que os militares se saiam bem. Aliás, são muito mais confiáveis do que os civis. Pessoalmente, não acredito que irão entregar a Petrobras, considerada hoje a petroleira de maior potencial de crescimento no mundo, nem tampouco a Eletrobrás, por sua função estratégica.

Os oficiais-generais são discretos, parecem que estão devagar, mas em duas semanas já dominaram o governo e restabeleceram a diplomacia independente, a única que realmente funciona.