Por Angelo Castello Branco*

Lá na frente, quando a história será vista com mais isenção, teremos uma análise consistente do roteiro democrático protagonizado pelos presidentes José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Trata-se de um script carregado de emoções e lances dramáticos pontuados pela morte de Tancredo Neves, tempos de inflação astronômica, de um ordenamento monetário, de escândalos, dois episódios de impeachments, prisão de um ex-presidente e um atentado a um candidato presidencial.

A história do Brasil na virada do século e nas duas primeiras décadas do século 21 exibe uma inegável tendência para a instabilidade política. A estabilidade é repetidamente ameaçada por tropeços constitucionais de certos governos.

A democracia foi conquistada a duras penas e ao longo de tortuosas negociações e confrontos que se estenderam por quase dois séculos.

Hoje podemos dizer que as instituições democráticas em nosso país estão sólidas, mas os nossos líderes eleitos seguem confusos e metidos em trapalhadas.

O arcabouço democrático está montado, mas nos faltam pessoas com a superior dimensão de estadistas capazes de sistematizar o desenvolvimento mobilizando as riquezas e as potencialidades humanas, naturais e materiais que o Brasil tem de sobra.

Preferem se dedicar a disputas ideológicas em torno de modelos políticos superados há mais de meio século e sepultados pelo fracasso. Os conceitos modernos de gestão adotados no Primeiro Mundo não chegaram ainda por aqui.

O PT suprimiu a transparência no manejo de recursos públicos  transferidos para nações identificadas com o socialismo anacrônico e até submetidas a ditaduras. Os escândalos denunciados na Operação Lavajato, fartamente divulgados pela mídia nacional e internacional, puseram fim ao sonho da prometida “ética acima de tudo”.

Além disso, a leniência ante movimentos sociais que agrediam princípios da constituição causou reações e acirrou o debate ideológico. A figura do capitão Jair Messias Bolsonaro foi beneficiada pelas fragilidades e fracassos éticos de seus últimos antecessores.

Em 2018 o eleitor deparou-se com uma bifurcação eleitoral crucial. Ou optava por premiar o partido denunciado pela Lavajato, ou votava em Bolsonaro. Simples assim, nos dirá a história. O processo histórico alavancou a figura do capitão e lhe conferiu a vantagem que qualquer outro candidato teria ao chegar ao segundo turno das eleições de 18.

E como já era de se esperar, o novo presidente saiu cortando tudo o que se opunha aos seus discursos ideológicos, ferindo interesses e promovendo polêmicas como resultado de um temperamento conflituoso e um estilo incomum de falar à nação. Se vai dar certo ou não, só o futuro pode nos dizer.