“A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios”, proclamou o pensador francês Charles-Louis de Secondat, o Barão de Montesquieu, título herdado de um tio. No livro “Cartas Persas” (1721), o Barão denunciou os abusos do poder autoritário e os excessos cometidos no reinado de Luís XIV. O que ele disse fez história, mudou princípios, corrigiu injustiças. Suas palavras tinham o poder da destruição só comparáveis a uma bomba atômica.

Reportando-se ao Brasil das incoerências e dos oportunismos políticos, o que diria o Barão de Montesquieu ao ver Lula e Alckmin abraçados, ontem, em São Paulo, num jantar, 15 anos depois de se enfrentarem na disputa pela Presidência da República com acusações como essa, partindo do ex-governador paulista? “Os brasileiros não são tolos e estão vacinados contra o modelo lulopetista de confundir para dividir, de iludir para reinar. Mas vejam a audácia dessa turma. Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder, ou seja, quer voltar à cena do crime”.

Cena do crime é roubo. O que Lula roubou? É protagonista de dois baitas escândalos no País: o mensalão e a Lava Jato. Em 2006, no período de campanha, Alckmin disse que, diferentemente de Lula, ele não “convivia com o crime” e acusou o ex-presidente petista de “chefe de quadrilha” em relação ao escândalo do mensalão.

E assim está escrito no seu livro da vida, que borracha nenhuma consegue apagar: “Que tempos são esses em que um procurador-geral da República denuncia uma quadrilha de 40 criminosos que tem na lista ministros, auxiliares e amigos do presidente? Que tempos são esses em que cada vez que ouvem uma notícia sobre a quadrilha dos 40, os brasileiros pensam automaticamente em silêncio: E o chefe, onde está o chefe, o líder dos 40 ladrões’”.

O ex-governador de São Paulo disse, também naquele ano, que o PT tinha associação com o PCC em São Paulo e chamou Lula de “fujão” e “covarde” por não aparecer em um debate após as primeiras reportagens sobre o mensalão e por uma suposta negociação, por petistas, de um dossiê contra ele e José Serra. E o que Lula disse de Alckmin? “O Brasil sabe muito bem quem deixou São Paulo refém do crime organizado. E os paulistas sabem quem mandou engavetar mais de 60 CPIs para que seu governo não fosse investigado”, acusou Lula no horário eleitoral, para derrotar o hoje, para ele, “Santo Alckmin”.

Montesquieu passou um tempo entre os salões literários em Paris, os estudos e o cargo na Câmara, além da atividade de escritor, mas deixou tudo isso para se dedicar exclusivamente aos livros. A fim de estudar o sistema político inglês, foi morar na Inglaterra por dois anos. Em seu retorno escreveu “O Espírito das Leis”, considerado a sua obra-prima. Um livro de grande sucesso.

Nesse livro, Montesquieu explicou as leis humanas e as instituições sociais. Definiu três tipos de governos: os republicanos, os monárquicos e os despóticos. Além disso, organizou um sistema de governo contra o absolutismo e idealizou o Estado regido por três poderes separados, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Montesquieu não ensinou a roubar, como Lula e Alckmin, segundo eles próprios se acusaram a vida inteira em busca do poder. Dá nojo retratar o jantar deles ontem: uma imoralidade triunfante. Almas rijamente temperadas pelo zelo da coisa pública devem tremular em seus túmulos. Lula e Alckmin formam um par perfeito da excrescência.

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