Em meio ao esforço da equipe de transição para formar uma maioria a favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional, uma bancada estratégica para garantir sua governabilidade é a do União Brasil. Contando a partir de 2023 com 59 deputados e 12 senadores, o partido pode ser o pêndulo em favor ou contra o futuro presidente no debate legislativo. De acordo com o seu líder na Câmara, Elmar Nascimento (União-BA), resta um gesto da transição para discutir a possibilidade de uma aliança com o novo governo.

O União Brasil é fruto de uma fusão de dois antigos partidos de oposição ao PT: o Democratas e o PSL. O primeiro foi um dos principais partidos de oposição a Lula e Dilma Rousseff em seus governos anteriores. Já o segundo foi o partido que elegeu Jair Bolsonaro em 2018, e destino da maior parte de seus apoiadores no Congresso, onde até então tinha uma presença mínima. As informações são do Congresso em Foco.

O relacionamento com Bolsonaro, porém, se tornou conturbado, e o partido fruto da fusão acabou se tornando um ponto de encontro de deputados identificados com a direita, mas contrários ou neutros em relação a Bolsonaro, lançando candidatura própria à presidência.

Apesar de possuir quadros declaradamente contrários ao PT, como o senador eleito Sergio Moro (PR) e o deputado Kim Kataguiri (SP), que entrou para a política militando contra Dilma Rousseff, o presidente do União, Luciano Bivar (PE), descartou publicamente a possibilidade de compor uma oposição. Elmar Nascimento conta que essa decisão não foi por acaso. “Se a gente puder contribuir para abaixar esse clima belicoso que já se estende para além da eleição, nós o faremos”, disse o deputado ao Congresso em Foco.

Descartar uma oposição, porém, não implica necessariamente compor ativamente o novo governo. Para decidir se o União Brasil vai fazer parte da nova gestão ou adotar uma postura neutra, Elmar conta que ainda é necessário conhecer melhor os novos planos. “Não tivemos nenhum contato denso com qualquer pessoa do novo governo, apenas sinalizações de que gostariam de conversar, e nada mais do que isso. Está tudo muito embrionário”, relatou.

Bivar e Elmar ainda pretendem se reunir com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para acertar detalhes sobre a possibilidade de acordo. “Para isso, nós precisamos saber melhor o que o governo está pensando em fazer a partir do ano que vem. Precisamos também saber se o governo nos quer nessa parceria, e como vai querer, para que possamos levantar isso com a nossa executiva e com os congressistas eleitos na Câmara e no Senado”.

Elmar Nascimento avalia que o PT terá de oferecer bons termos ao seu partido, tendo em vista o cenário apertado que Lula terá de enfrentar no parlamento. “A situação impõe esse diálogo. Se forem excluídos os partidos que formalmente apoiaram a candidatura Bolsonaro, respectivamente o PL, PP e Republicanos, e que por uma questão lógica deverão ficar na oposição, o PT não vai conseguir dispor de outros partidos grandes que não o União, o PSD e o MDB para construir a maioria”, apontou.

O novo governo já recebeu confirmação do presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), de que este estará ao seu lado na composição do Congresso. O PSD também já está avançado nas conversas com o PT, e seu partido já possui membros no gabinete de transição. O primeiro, porém, é historicamente governista, e o segundo, apesar de oficialmente neutro, já possuía quadros de destaque trabalhando em favor da campanha de Lula desde o primeiro turno das eleições.

Ao contrário dos outros dois, o antigo Democratas sempre optou pela oposição ao PT, e possui uma agenda oposta em suas pautas econômicas. A oferta de bons termos, porém, pode ser vantajosa para a legenda de Lula: com apoio garantido do União Brasil, o novo governo consegue obter a maioria nas duas casas legislativas. Futuras negociações seriam apenas para fortalecer essa base, de modo a facilitar a aprovação de seus projetos.