Charge do Aroeira (agazeta.com.br)

Por Pedro do Coutto

Como era esperado, a Câmara Federal aprovou o projeto de reforma tributária do governo Lula e projetou um novo perfil político no país, sobretudo após a cisão aberta no bolsonarismo com a atuação do governador Tarcísio de Freitas pela aprovação da matéria elaborada pelo  ministro Fernando Haddad, mas de interesse do país, e que recebeu o apoio maciço, por exemplo, da Federação das Indústrias de São Paulo.

Matéria de Vitória Abel e Renan Monteiro, O Globo desta sexta-feira, focaliza o assunto, da mesma forma que Gabriel Sabóia, também no O Globo, destacando que governadores que apoiaram Bolsonaro em 2022 também se afirmam favoráveis à reforma proposta pelo governo Lula da Silva. Entre esses governadores, incluem-se Romeu Zema, Cláudio Castro, Ratinho Jr. e Eduardo Leite.

DIREITA MODERADA – Em artigo muito bom, O Globo de ontem, Vera Magalhães assinala que o espaço do centro político se alargou. E neste processo, surgem no horizonte uma posição possível de ser classificada como a de direita moderada. Com isso, isola-se a direita exacerbada e bolsonarista que no desespero da derrota das urnas patrocinou e desencadeou a invasão e as depredações de Brasília.

A direita moderada não tem interesse em golpe militar com o objetivo de violar a vontade das urnas de outubro para manter Jair Bolsonaro no poder. Essa tentativa, ficou patente, é impossível, pois recebeu o veto do Alto Comando do Exército e não encontrava respaldo no contexto internacional, ao contrário do que ocorreu, por exemplo, no golpe de 1964 que derrubou o presidente João Goulart.

LIDERANÇA – De outro lado, a facção moderada que agora tem como líder Tarcísio de Freitas, baseia-se numa boa dose de realismo. A política, no fundo, é uma luta pelo poder. E, se quando ocupava a Presidência, Jair Bolsonaro não teve condições para desfechar o golpe, fora do poder e com Lula no governo, terá menos condições ainda. Portanto, a oposição extremada não encontra caminhos para se afirmar. Nada tem a oferecer, exceto o quadro dramático que marcou os acontecimentos alucinados de 8 de janeiro.

Política é também a sensibilidade de uma perspectiva. Jair Bolsonaro ficou isolado e com ele qualquer pensamento golpista transformou-se num simples delírio. Destruir é muito mais fácil do que construir. Mas destruir não leva ninguém a parte alguma, muito menos ao poder.

ENCONTRO –  Flávia Oliveira, no espaço que ocupa brilhantemente às sextas-feiras no O Globo, escreveu ontem sobre a edição da peça publicitária da Volkswagen unindo as interpretações de Maria Rita e da sua mãe, a extraordinária Elis Regina. Um encontro entre a existência e a realidade? Uma tentativa do que se chama Inteligência Artificial.

Tenho dúvida, particularmente, sobre o uso de artistas falecidos para reapresentações na atualidade. O encontro entre a existência e a eternidade é uma das grandes contradições humanas. Figura entre o corpo e o espírito, entre o capital e o trabalho. A face da morte que Otto Maria Carpeaux classificava como “A noite”, com base em um verso de Goethe, “Quando a noite chama para partir”, tem uma força extraordinária.

Assim, buscar na noite manifestações terrenas é algo que nos faz pensar um pouco e, como se estivéssemos dirigindo um automóvel, tocando suavemente o pé no freio. Essa sensação se repete toda vez que um assunto nos incomoda, e por isso tenho dúvida quanto à ética de se tentar resgatar imagens que ficaram eternas. Afinal, os que partiram podem concordar ou discordar de se transformarem em imagens para finalidades que não autorizaram?