Por Pedro do Coutto

Numa entrevista à Folha de São Paulo, edição de sábado, o deputado Arlindo Chinaglia, líder do governo na Câmara, afirmou que será difícil realizar o plebiscito no prazo que a presidente Dilma Rousseff deseja e propõe. Se a liderança do Planalto numa das Casas do Congresso admite a dificuldade, é porque ela existe claramente. As dificuldades vêm de todos os lados, a começar do Tribunal Superior Eleitoral depois de passar pela divisão da base aliada no Congresso. Para efeito de raciocínio político, vamos admitir que seja adiado. Surgirá um novo vazio no quadro institucional.

A presidente da República terá de preenchê-lo como aliás escreveu Carlos Heitor Cony também no sábado, sugerindo que a presidente envie um projeto de reforma política ao Legislativo que, no caso de aprová-lo submeteria o resultado a um referendo popular. Seria mais simples e mais objetivo. O que não pode acontecer é que, na hipótese da não realização do plebiscito, ocorrer um vazio no panorama político nacional. Inclusive não seria o primeiro recuo. Seria o segundo. Porque o primeiro, todos se lembram, verificou-se com a tese da Constituinte exclusiva que durou apenas um dia. Mas afastada a hipótese de o governo não e3mplacar a colocação às urnas do destino da reforma política, com ou sem plebiscito, as pressões das ruas continuará em razão das reivindicações urgentes não terem sido atendidas. Talvez não possam sê-las em curto prazo, mas isso não significa que o Poder Executivo não possa iniciá-las. Sobretudo porque no momento em que der início efetivo e concreto ao que vem da voz das urnas, a pressão sobre o governo será substancialmente reduzida.

E mais uma coisa: a presidente da República tem motivos pessoais para ir ao encontro dessa urgência. A Folha de São Paulo publicou domingo reportagem de Cátia Seabra e Márcio Falcão apontando as dificuldades surgidas na área do próprio Poder para confirmar as alianças partidárias para a campanha à sua reeleição em 2014. Surpreende que partidos, exemplo do PDT, que ocupam ministérios, vacilem e se tornem reticentes já que compõem a base governista. Se isso ocorre no momento, imaginem os leitores como ficará o quadro caso o plebiscito não seja levado à votação popular.

A presidente Dilma Rousseff, de acordo com a perspectiva aberta por Arlindo Chinaglia, deve produzir de imediato propostas de sentimento coletivo legítimo para evitar um novo vazio em sua área, no seu esquema de poder. Não que eleições sejam vencidas apenas em função de coligações partidárias. Mas é que sua evaporação reflete diretamente na percepção e no ânimo dos eleitores.

O governo, neste instante, atravessa uma fase difícil, um redemoinho de contradições. Precisa livrar-se o quanto antes. Devendo-se acrescentar o silêncio do ex-presidente Lula, que não está acrescentando apoio e densidade ao governo. Pelo contrário. Seu retraimento está sendo interpretado como uma forma de recuo estratégico. Porém na hora das dificuldades, é quando se torna mais importante o apoio da maior figura do PT. Seu silêncio significa defensiva. E na política., a ofensiva é fundamental. O recuo nada acrescenta. Pelo contrário: subtrai. Os aliados de Dilma Rousseff, os de verdade, precisam sair da sombra e assumirem suas posições. O vazio é um desastre.