Por Alex Medeiros/ Jornalista

Ao término do jogo contra o Chile, eu postei no Twitter que aquilo me parecia uma agonia adiada. Depois veio a Colômbia e o inusitado êxito de uma seleção que continuava vencendo e não convencendo.

Pouco tempo depois, lembrei do bordão de Karl Marx, de que a História se repete, na primeira vez como tragédia e na segunda como farsa. E se 1950 teve todos os componentes trágicos de uma derrota, 2014 sobrou elementos fúteis de uma farsa.

O tempo todo, desde o ano passado, alertei para o erro do clima de já ganhou da mídia pacheca criado com a Copa das Confederações, critiquei o tom ilusório de uma competição que jamais será referência para classificar uma seleção.

 

Todos acreditaram piamente no circo armado pela CBF, na pantomima publicitária dos anunciantes, no ufanismo piegas do governo Dilma e da Rede Globo. E, principalmente, num meritório simulacro de um técnico com currículo vencido há doze anos.

A glória de 2002, conquistada no talento de Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, não poderia nunca ser repetida com Fred, Hulk, Paulinho, Jô… Pensaram todos que o motivo maior era Felipão, e trataram de juntar ainda Parreira, outro ultrapassado.

Essa seleção que entra na História pela porta da farsa libertando a geração de 1950 do peso da tragédia, me lembra o onanista contemplando manualmente a imagem feminina do passado. Só aos olhos e às mãos dele a mulher continua a mesma de antanho.

Os crápulas e ladrões da CBF convocaram o Felipão do penta, mesmo sabendo que agora ele era o técnico do vexame em Portugal, da piada no Chelsea, do desastre no Palmeiras. E chamaram o Parreira do futebol feio, mas vencedor, de vinte anos antes.

Ambos, Felipão e Parreira, repetiram em algumas posições chaves o mesmo erro que a CBF praticou ao convidá-los. O Paulinho convocado foi aquele do Corinthians, não o reserva do Chelsea. Pegaram o Fred do Brasileirão para fazer gols em defesas da Champions League. Levaram um goleiro do futebol canadense.

O Brasil de 2014 não é apenas um time derrotado, mas é a mais ridícula seleção em toda a história do futebol nacional, aquela que foi humilhada numa copa em casa, não com a mesma dor de 1950 e sim com a histeria forjada no cinismo patriótico do seu tempo.

Os 7 x 1 da Alemanha é a representação numérica de um país de mentira, de um futebolzinho pífio sustentado em glórias de um passado que não mais lhe pertence. O Brasil glorioso que tanto se fala pertence à geração de Pelé, que virou História.

 

Desde que o rei e seus súditos pararam de jogar, a geopolítica da bola mudou os paradigmas. A partir de 1974, na Copa da Alemanha, até ontem, no show alemão do Mineirão, a hegemonia brasileira nas copas e torneios internacionais diminuiu.

Os dois títulos conquistados em 1994 e 2002 se equivalem aos dois da Alemanha (1974, 1990), Itália (1982, 2006), Argentina (1978, 1986). Sem a figura mítica de Pelé, o futebol ficou igual para todos e ainda viu surgir novos campeões, como França e Espanha.

No day after do vexame, tenho o prazer mórbido de perguntar agora: cadê o jornalismo patético do amor amarrado na chuteira, cadê a musiquinha medíocre do brasileiro com muito orgulho, cadê os anúncios ufanistas camuflando com a bola a lama da Petrobras?

E os programinhas de dondocas especializadas em copas, como serão as pautas a partir da derrota acachapante e humilhante? Em que lata de vergonha os comentaristas jecas jogarão seus palpites exacerbados? Para onde vai aquele riso de vencedor de véspera?

Imagino que o cinismo de ocasião estará torcendo por um tropeço da Argentina sob a Holanda para poder construir mais um discurso falso de superioridade inócua. Mesmo que para isso tenham que engolir uma festa da Europa na Copa que se dizia das Américas.

Amanheci com um desejo de procurar um cartório e mudar meu nome para “Alex Ri Por Último Medeiros”. Costumo suportar patriotadas doentias e ri no final, como nas três últimas Olimpíadas, nas duas últimas copas, nos mundiais de clubes, na desconstrução de falsos ídolos como Robinho e Adriano.

A tarde de 8 de julho de 2014 ficará para sempre na minha memória como mais um episódio em que o escárnio e o desaforo antecipados se espatifaram num muro da verdade. A verdade histórica que fez a farsa enterrar para sempre a tragédia de 1950.Chupa, pachecos!