Por Pedro do Coutto

 

A presidente Dilma Rousseff, em uma entrevista a Deborah Berlinck, O Globo, e Clóvis Rossi, Folha de São Paulo, na tarde de domingo ainda na Austrália, publicada nas edições de segunda-feira 17 dos dois jornais, afirmou que as investigações sobre os escândalos na Petrobrás vão mudar o país para sempre, na medida em que representam o fim da impunidade, acrescentou.

Concretamente não se pode sustentar que causa uma mudança eterna para o país, porém é fato que representa um marco na história brasileira, erguendo um divisor na história de nossa principal empresa em seus 61 anos de existência. Pois de 1953, quando entrou em vigor a lei 2004, até hoje, nada ocorreu na dimensão do que hoje veio à superfície em matéria de corrupção, com o envolvimento exposto de empresários, lobistas, operadores cambiais, administradores públicos e políticos. E o montante dos valores comprometidos? E as obras superfaturadas?

O impacto foi tão forte, sua repercussão enorme, sobretudo porque, isso sim, pela primeira vez executivos e sócios de grandes empresas tiveram sua prisão decretada e se encontram presos na Polícia Federal do Paraná. Tão intenso que a própria presidente da República sustentou que mudará para sempre a relação entre a sociedade brasileira, o Estado e a empresa privada. Vai acabar com a impunidade, mudará o Brasil para sempre, acrescentou.

UM FREIO

Pode não mudar para sempre, mas, sem dúvida, representará um freio à onda de corrupção no país. Passou dos limites. A prova está no fato de somente um dos acusados anunciar a disposição de devolver 23 milhões de dólares, dos quais é possuidor na rede bancária suíça. Mas quando se pensava que Paulo Roberto Costa fosse um exemplo isolado, a Folha de segunda-feira publica que p ex gerente da estatal, Pedro Barusco, fechou um acordo de delação, através do qual prontifica-se a devolver 97 milhões de dólares aos cofres da empresa. Como é possível que uma pessoa tenha se apoderado de tal quantia?

Individualmente impraticável, impossível. Só mesmo um conjunto articulado dentro do triângulo reunindo representantes da administração pública, grandes empresas e políticos poderia ser capaz de bater um recorde desses. Além do mais uma triangulação atuando através de vários anos, principalmente porque grandes obras, mesmo numa empresa do porte da Petrobrás, não ocorrem sem intervalos de tempo. Uma estrutura foi ao que tudo indica montada em detalhes para o objetivo comum de praticar fraudes em escalas.

CADA VEZ MAIS VORAZES

Foram escalas crescentes porque, ao encontrar flexibilidade e facilidade para agir criminosamente, os personagens principais foram em frente, a cada momento mais vorazes. A Petrobrás foi claramente vítima de portentosos saques, os quais só contribuíram para ampliar suas despesas e não suas receitas. Estas, ao contrário, diminuem proporcionalmente à medida em que os assaltos aconteciam. Porém como não existe crime perfeito, tampouco segredo duradouro, os fatos vazaram e romperam a sombra do silêncio e foram se tornando cada vez mais visíveis.

Até que chegaram ao ponto de hoje, tornando-se do conhecimento de toda a opinião pública. Atingiu, digamos assim, o limite do possível. Se fatos ocultos já há tempo acabavam surgindo à tona, quanto mais agora com a internet e as redes sociais? Manter algo em segredo, se já era difícil antes da era moderna, veloz por excelência, agora tornou-se impossível.

Acabam surgindo, como ocorreu, com o nome de todos os atores e seus respectivos na trama. Presos, foragidos, expostos ao julgamento coletivo. Nunca esperaram que tal desfecho os aguardasse. Enganaram-se. Aconteceu. Não se pode iludir a todos durante todo o tempo. Esta frase do presidente Lincoln pertence à eternidade da história universal.