Por Carlos Newton

O maior mistério da política brasileira é a situação do presidente Michel Temer. Conforme noticiamos aqui, caso o ministro Geddel Vieira Lima não fosse demitido nesta segunda-feira, haveria duas hipóteses: 1) o presidente é uma espécie de refém dos caciques do PMDB; 2 ) o presidente é o chefe da quadrilha que domina o Planalto, em substituição à gangue anterior. Como não houve a menor demonstração de que Temer pretende afastar o secretário de Governo, o país poderia estar diante de uma dessas opções. Mas surgiu de repente mais uma alternativa, que demonstra ser a verdadeira: 3) O presidente é refém dos caciques do PMDB, mas está tentando se livrar deles.

Esta terceira hipótese ficou clara devido a uma reveladora declaração do secretário do Programa de Parceria de Investimentos, Moreira Franco, que não é ministro, mas nos últimos dois meses se tornou o principal interlocutor do presidente Michel Temer.

O QUE DISSE MOREIRA? – Em Paris, onde participa do IV Fórum Empresarial Brasil-França, disse Moreira ao Estadão: “O presidente está tratando dessa questão. Esse problema ocorreu no fim de semana. Ele está muito preocupado“. O secretário declarou ainda que “não afasta, nem afirma” que Geddel continuará no governo. “Como eu disse, o presidente vai estar debruçado sobre essa questão“, afirmou.

Em tradução simultânea, a entrevista de Moreira Franco revela que Temer quer demitir Geddel, mas ainda não pode, devido à pressão dos outros caciques do PMDB, atualmente comandados por Eliseu Padilha, da Casa Civil, Renan Calheiros, presidente do Senado, e Romero Jucá, líder do Governo, além do próprio Geddel, é claro, que alardeia ser amigo de Temer há 25 anos.

O fato concreto, que todos procuram ocultar, é a ruptura do poder dentro do Palácio do Planalto. Com apoio de Moreira, Temer está tentando se livrar dos caciques do PMDB, mas ainda não conseguiu.

DESDE SETEMBRO – Essa briga de extermínio vem se travando desde o início de setembro, quando Eliseu Padilha entrou em choque com o ministro Medina Osório, da Advocacia-Geral da União, que desde julho vinha sofrendo uma campanha difamatória fomentada pela própria Casa Civil, com a participação do secretário de Imprensa Márcio Freitas Gomes, subordinado diretamente a Padilha, que mandava criar e espalhar notícias desabonadoras contra o chefe da AGU.

Temer tem grande respeito por Medina Osório, que é um dos maiores juristas da nova geração, e não gostou nada da demissão dele. Como se sabe, ao sair do Ministério, o chefe da AGU deu explosiva entrevista à Veja para denunciar a Operação Abafa, destinada a demolir a Lava Jato, mas ressalvou que Temer dela não participava.

ESVAZIANDO PADILHA – A partir daí, as coisas mudaram muito no Planalto. Temer deu um gelo em Padilha/Geddel, abriu mais espaço a Moreira Franco. Para esvaziar a Secretaria de Imprensa, manipulada por Padilha, recriou a Secretaria de Comunicação Social, subordinada diretamente à Presidência, e nomeou como porta-voz o diplomata tucano Alexandre Parola, que já servira ao governo FHC.

A batalha final entre Temer/Moreira e Padilha/Geddel começou agora e será eletrizante. O primeiro round aconteceu na reunião da Comissão de Ética da Presidência, nesta segunda-feira, que examinou a abertura de investigação sobre Geddel. Cinco dos sete membros votaram a favor do inquérito, mas Padilha/Geddel conseguiram que o conselheiro José Saraiva pediu vista. Com isso, a votação só seria retomada em 14 de dezembro, já pertinho do Natal.

Não contavam com a reação de Temer, que fez Saraiva cair na real e lembrar que na hierarquia quem manda é o presidente. À tarde, o conselheiro voltou atrás e desfez o pedido de vista. Ou seja, a investigação será imediatamente aberta e vai liquidar Geddel, sem escapatória.

SÓ RESTARÁ UM – No xadrez do Planalto, Temer/Moreira estão jogando com maestria. Agora, Geddel tornou-se uma peça encurralada, não tem como escapar, é só uma questão de tempo. Sem apoio de Geddel, que cairá de podre e será substituído por um político fiel a Temer, o ministro Padilha ficará completamente esvaziado e deslocado no quarto andar do Planalto. E logo haverá o xeque-mate, para que possa realmente ser iniciado o governo de Michel Temer, desta vez com Moreira Franco na Casa Civil.

Depois do episódio de Medina Osório, os demais ministros perceberam a estratégia de Padilha, que de início arma uma campanha difamatória usando jornalistas ligados ao poder, para depois conseguir afastar o desafeto. No caso do ministro Marcelo Calero, da Cultura, porém, a estratégia foi um fracasso. Ao perceber que começava a ser difamado, Calero pediu demissão, saiu atirando e acertou um torpedo em Geddel, que está politicamente liquidado, mas é muito rico e vão se divertir cuidado de seus bens. Quanto a Padilha, seu futuro não vale uma nota de três dólares, mas também é rico, e vai cuidar da fazenda.