É muito baixa a chance de a Câmara dar autorização para o Supremo analisar essa nova denúncia de Janot. Será uma surpresa se Temer for derrotado. A trapalhada e o açodamento ao fechar os acordos de colaboração de Joesley e Saud mais as denúncias que Janot apresentou em relação aos principais partidos criam um ambiente de forte espírito de corpo contra o Ministério Público e o procurador-geral que está de saída. Hoje, Temer teria votos para barrar a denúncia.

A flechada simultânea em Temer e Joesley foi a forma que Janot encontrou para corrigir o erro de ter dado imunidade processual à dupla da JBS que o enganou e tentou manipular a Justiça. Trata-se de uma resposta à opinião pública e a esses dois delatores diante do que se descobriu a partir do áudio que Joesley batizou como uma “conversa de bêbados”.

A ligação entre Temer e Joesley se dá com a sustentação da tese de que os dois tentaram comprar o silêncio do hoje delator Lúcio Funaro. Isso é negado por Temer e confirmado por Joesley. Janot também faz um movimento preventivo. Pede a rescisão da colaboração premiada de Joesley e Saud, mas solicita ao STF que todas as provas sejam consideradas válidas. Ele faz isso porque sabe que haverá questionamento a algumas dessas provas.

Se o acordo foi rescindido por falta de Joesley e Saud, que teriam mentido ou omitido, é óbvio que parte das provas pode estar contaminada. É preciso ver em quais pontos mentiram e omitiram e nos quais disseram a verdade. Nesse contexto, Dodge recebe uma herança difícil.

(Kennedy Alencar)