Por Carlos Newton

Houve descrença generalizada quando publicamos aqui na “Tribuna da Internet” que o presidente Michel Temer será candidato à reeleição em 2018, contrariando suas declarações anteriores de que abandonaria a política após entregar o cargo, em 1º de janeiro de 2019. Realmente, fica difícil acreditar que um governante que conta com apenas 3,5% de aprovação possa almejar uma vitória nas urnas, faltando apenas um ano para a eleição. Mas acontece que não há alternativa para Temer. Terá de ser candidato, pois a recondução ao cargo é a única chance que lhe resta para manter o foro privilegiado e evitar ser processado pelo juiz federal Sérgio Moro.

 DISCORDÂNCIAS – Quando publicamos esta notícia, em absoluta primeira mão, diversos comentaristas discordaram, prevendo que Temer vai preferir a candidatura a deputado federal, mas esta possibilidade é muito remota, porque representa um risco que ele não tenciona correr. Se Temer preferisse sair candidato a deputado federal, teria maiores possibilidades de vitória, mas precisaria se afastar da Presidência até o dia 2 de abril, para se desincompatibilizar, e ele não admite essa alternativa, em hipótese alguma. Sabe que o juiz Moro é rápido no gatilho, rapidamente irá sentenciá-lo e a inevitável condenação reduzirá suas chances de ser vitorioso para a Câmara, pois ficou como suplente na última eleição de deputado que disputou, em 2006. Por isso, prefere ser candidato à reeleição (ou recondução, pois Dilma Rousseff é que foi eleita). Como existem muitos candidatos e o favorito Lula não disputará, devido à Lei da Ficha Limpa, Temer acha que terá alguma chance, especialmente se a economia continuar se recuperando.

 SEM ALTERNATIVA – Por óbvio, ainda é somente um sonho, mas Temer não se importa, até mesmo porque não tem alternativa. É pegar ou largar, e sua prioridade absoluta é a manutenção do foro privilegiado. Em busca do sonho, Temer já contratou o marqueteiro Elsinho Mouco, que ninguém sabe como está sendo pago – se é pela Presidência, pelo PMDB ou pelo Caixa 2, porque Temer é um milionário pão-duro e não abre a mão nem mesmo para cumprimentar os eleitores.

Reportagem de Letícia Fernandes e Eduardo Barreto, em O Globo deste sábado, confirmou a informação exclusiva da “Tribuna da Internet”, ao revelar que a equipe de comunicação vai tentar, a partir de novembro, “repaginar” a imagem do presidente, com base na existência de um suposto Plano Temer de recuperação econômica. Na Folha de S. Paulo, a mesma informação sobre a campanha de marketing foi divulgada por Gustavo Urive e Daniel Carvalho.

 ATRÁS DE UM VICE – E não é de agora que Temer está decidido a disputar a eleição. Em 7 de agosto, visitou João Doria em São Paulo e o convidou a se filiar ao PMDB para ser candidato à sucessão. Mas o prefeito é esperto, percebeu que o objetivo é usá-lo na campanha, mas como candidato a vice-presidente ou governador de São Paulo, para puxar votos ao próprio Temer. Por isso, logo pulou fora e já acertou sair candidato a presidente pelo DEM. Na verdade, eleição é uma espécie de loteria. Temer acha que tem chance, porque lembra que, em 1982, no Rio de Janeiro, as pesquisas davam Sandra Cavalcanti (PTB) como franca favorita. No entanto, Leonel Brizola (PDT) virou o jogo, teve 34,2%, Moreira Franco (PDS) ficou sem segundo, com 30,6%, Miro Teixeira (PMDB) em terceiro, com 21,5%, e Sandra Cavalcanti chegou em quarto lugar, com apenas 10,7% dos votos.

Agora em 2016, Celso Russomano (PRB) liderava as pesquisas da eleição em São Paulo, com muita folga. No final de agosto, tinha 33%, Marta Suplicy (PMDB), apenas 17%, com Fernando Haddad (PT), Luiza Erundina (PSOL) e João Doria (PSDB) empatados com 9%. Cinco semanas depois, Doria ganhou no primeiro turno com 53,29%; Haddad teve 16,7%, Russomano 13,64% e Marta apenas 10,14%. Essas mudanças eleitorais acalentam o sonho de Temer, que confia na recuperação da economia. Mas se esquece de que este será o mesmo argumento de Henrique Meirelles, que é candidato pelo PSD e vai dividir com ele os votos do mesmo segmento político.