Por José Carlos Werneck

Em Brasília é voz corrente que o ministro da Justiça, Sergio Moro, deve aguentar em silêncio as constantes derrotas e as muito constrangedoras desautorizações públicas que, ultimamente, lhe vem sido impostas pelo presidente da República. E, por sua vez, Bolsonaro terá que assumir o talvez irreparável desgaste de demitir seu auxiliar mais importante, se realmente colocar Moro fora do governo e não poderá deixar de explicar os verdadeiros motivos da demissão.

O contencioso entre o presidente e seu ministro se resume a esses dois pontos: mudanças no Coaf e Interferências na Polícia Federal.

HOUVE DISPUTA – O ministro queria manter o Coaf na Justiça, mas, com o aval do presidente, foi derrotado na Câmara dos Deputados, que determinou a reintegração do conselho ao Ministério da Economia. Agora, tentou manter no comando do Coaf e o competentíssimo e inatacável auditor Roberto Leonel, chefe do Coaf, que fora indicado por ele, mas perdeu o cargo após pressões de Bolsonaro.

As interferências na Polícia Federal também incomodam o ministro da Justiça, Nesta quinta-feira, dia 22, mesmo após Bolsonaro falar sobre a possibilidade de trocar o delegado Maurício Valeixo, diretor-geral da Polícia Federal, Moro não mudou sua agenda. Compareceu a duas solenidade, participou de reuniões com seus auxiliares e teve encontros com parlamentares. Sempre mantendo a discrição, que lhe é peculiar, ele nada deixou transparecer.

PACOTE ANTICRIME – Quanto ao pacote anticrime, o mais importante projeto do ministro, foi totalmente deformado na Câmara dos Deputados e não recebeu o apoio que seria esperado de Bolsonaro. O presidente, em seu habitual simplório linguajar, esta semana chegou a sugerir que Sergio Moro desse uma “segurada” no importante projeto, para não causar “turbulência” às reformas que ora tramitam no Congresso Nacional.

Recorde-se que em seu primeiro mês como presidente, Jair Bolsonaro editou um decreto para flexibilizar a posse e o porte de armas sem ouvir os técnicos do Ministério da Justiça. tendo Moro demonstrado um compreensivo constrangimento, afirmando que a medida não se enquadrava como política de Segurança Pública.

INDICAÇÃO DE ILONA – Quando o ministro fez a indicação de Ilona Szabó, renomada cientista política, como suplente para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, a militância bolsonarista nas redes sociais reagiu, e Moro viu-se compelido a recuar e desfez o convite após ter recebido um telefonema do presidente.

Nesta quinta-feira, após as declarações do presidente a respeito da possível remoção do delegado Maurício Valeixo, diretor-geral da Polícia Federal, o ministro não passou recibo. Deixou a reação a cargo da própria Polícia Federal e cumpriu sua agenda normalmente. Sabe-se que ele não pedirá demissão. Deixará que Bolsonaro o demita, caso o presidente se atreva a tanto.