Após três semanas de atuação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o saldo para o governo de Jair Bolsonaro não é nada positivo, avaliam analistas políticos. Se por um lado as testemunhas ouvidas não trouxeram revelações bombásticas sobre a atuação federal na pandemia, de outro os depoimentos serviram para detalhar com mais profundidade falhas da gestão Bolsonaro que já eram conhecidas, como a demora para fechar contratos na compra de vacinas e a reação insuficiente ao colapso do sistema de saúde do Amazonas.

“O efeito que me parece mais concreto (da CPI) é cristalizar uma rejeição alta do governo. Se de fato esse cenário ocorrer, já é suficientemente relevante porque, com a rejeição ao governo em torno de 50% do eleitorado, me parece que é um patamar que sugere transição eleitoral em 2022”, analisa o cientista político Rafael Cortes, da Consultoria Tendências. “Se a CPI fortalecer essa rejeição (à gestão Bolsonaro) isso significa diminuir o peso eleitoral de uma eventual retomada da economia ou da tentativa do governo de surfar no avanço da imunização”, acrescenta.

“Se tem uma coisa certa na CPI é de que a simples existência dela vai ter impacto na eleição. Os demais desdobramentos, se vai ter punição ou não de ministro, se vai chegar ao presidente da República com processo de impeachment, isso é duvidoso. Mas com certeza vai trazer desgaste ao Bolsonaro no eleitorado que tinha dúvida da conduta do governo na pandemia”, diz, por sua vez, o analista político Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que acompanha de perto o funcionamento do Congresso.

Para Rafael Cortez, uma das principais mensagens da CPI é “simples”, mas com potencial muito negativo para Bolsonaro: “a mensagem de que o governo não comprou vacina”, resume. Por isso, ele destaca como um dos momentos mais importantes da CPI até agora o depoimento do gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo. “O diretor da Pfizer prestou um depoimento neutro do ponto de vista mais político e acho que trouxe evidências da opção do governo pela não vacinação logo de início na pandemia”, acrescenta.

O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, nega que o governo tenha deixado de responder ofertas da Pfizer no ano passado e culpa as cláusulas do contrato pela recusa às propostas. Segundo o ex-ministro, o governo não concordava com exigências como a isenção de responsabilidade por efeitos colaterais, transferência do fórum de decisões sobre questões judiciais para Nova York, pagamento adiantado e não existência de multa por atraso de entrega.

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