Mariana Schreiber/ BBC News Brasil

A ideia de dar um segundo mandato ao presidente Jair Bolsonaro hoje é rejeitada pela maioria da população, segundo diferentes pesquisas eleitorais. Esses mesmos levantamentos mostram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como favorito para vencer a disputa presidencial do próximo ano.

Apesar disso, o cientista político Creomar de Souza, professor da Fundação Dom Cabral e fundador da consultoria política Dharma, avalia que Bolsonaro se mantém um candidato competitivo, com chances de permanecer no Palácio do Planalto em 2023.

CHAVE DO COFRE – Em entrevista à BBC News Brasil, o analista lembra que o presidente mantém nas mãos a “chave do cofre”, ou seja, recursos para tentar reverter sua impopularidade com políticas de governo, como o aumento de transferências de renda, seja com a prorrogação do auxílio emergencial ou a ampliação do Bolsa Família.

Além disso, acredita que “o canal paralelo de comunicação” construído por Bolsonaro e seus apoiadores por meio de grupos de WhatsApp e Telegram, terã novamente papel importante na eleição, como forma de divulgar mensagens favoráveis ao presidente e “destruir reputações” de adversários. Para Souza, mesmo narrativas que pareçam pouco convincentes para parte da população podem cativar eleitores.

“O desemprego, o retorno da fome, a inflação: tudo isso gera uma enorme dificuldade para Bolsonaro. O que o presidente tem feito é jogar a conta da inflação no ‘fique em casa durante a pandemia’. Me parece ser uma manobra muito difícil, mas não é uma manobra que não possa colar”, afirma Creomar de Souza.

CASO DA CLOROQUINA – “Não podemos trabalhar com a ideia de que o eleitor é invulnerável a percepções que nós não consideremos objetivas da realidade. Temos que lembrar que, no fim das contas, muita gente tomou cloroquina e outros medicamentos que não tinham comprovação científica alguma, mas se curaram. Isso acontece”, reforça.

Para o professor, o cenário de 2018 está se repetindo agora, com uma ampla subestimação do potencial do presidente. “Todo mundo subestima o Bolsonaro. O Lula subestima o Bolsonaro. Quem quer fazer terceira via subestima o Bolsonaro. Até quem está com o Bolsonaro subestima o Bolsonaro. E uma característica bem importante do Bolsonaro como persona política é o fato de que ele chegou onde está com todo mundo o subestimando”, lembra.

PODE SER REELEITO – “Foi assim que ele chegou à Presidência da República. Assim ele vai finalizar o mandato, provavelmente sem impeachment, e assim ele pode inclusive ser reeleito”, acrescenta o criador da consultoria política Dharma.

Na sua visão, ao subestimar Bolsonaro, a oposição tende a se fragmentar, gerando um cenário mais favorável para o presidente estar no segundo turno, com chances de se reeleger.

“Em algum sentido, essa fraqueza aparente do Bolsonaro dá a impressão de que qualquer outro candidato pode derrotá-lo, e esse é o principal vetor que impede a construção de qualquer tipo de coalizão”, ressalta.

BASE DE VOTANTES – “O grande número de candidatos será a melhor chance do Bolsonaro. Quanto mais fragmentada for essa oposição, quanto mais candidatos existirem, melhor para Bolsonaro, porque ele tem uma base concentrada de votantes. Se os (demais) votos estiverem muito diluídos em outros nomes, ele está no segundo turno”, diz ainda.

Em sua opinião, em uma eleição que tem tudo pra ser altamente tumultuada, que caminha pra ter dois protagonistas (Bolsonaro e Lula) que são antagonistas e que despertam muitas paixões positivas e negativas, essa conjuntura gera um caldeirão que pode acabar beneficiando Bolsonaro, devido ao antilulismo que ainda existe. “Ou seja, a reeleição é possível!”, salienta o cientistas político Creomar de Souza.