Via Correio Braziliense

Após 27 anos do lançamento do Plano Real, quem pensava que o dragão inflacionário estava dominado se enganou completamente. Em 2021, a alta do custo de vida voltou para a casa dos dois dígitos, pela primeira vez desde fevereiro de 2016. E, de acordo com especialistas, não será fácil fazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, voltar ao controle neste ano.

Sem ter conseguido, em 2021, cumprir a missão de entregar o IPCA dentro da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central deverá falhar novamente em 2022, de acordo com analistas. As projeções do mercado para o IPCA do ano que passou e deste que está começando estão em 10,02% e 5,03%, respectivamente — acima dos tetos, de 5,25% e de 5%.

Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA registrou alta de 10,74% no acumulado em 12 meses até novembro. A prévia da inflação oficial, o IPCA 15, encerrou dezembro em 10,42%. Com isso, o Brasil tem a terceira maior inflação entre os países do G20 — grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes do planeta mais a União Europeia. A Argentina lidera o ranking com a carestia acumulando alta de 51,2% em 12 meses. A Turquia, em segundo lugar, registra inflação de a 21,3%.

Vilões

Os maiores vilões da inflação brasileira no ano passado foram os combustíveis, que podem continuar pressionado os preços em 2022, pois o dólar continuará em torno de R$ 5,60, segundo previsões do mercado. Pelas projeções dos especialistas ouvidos pelo Correio, o IPCA continuará em dois dígitos até abril ou maio, devido à série de reajustes de preços que normalmente ocorrem no início de cada ano e à indexação elevada da economia.

Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, “o BC não conseguirá cumprir a meta sem elevar muito os juros e levar o país a uma nova recessão”. Pelas estimativas do mercado apontadas no boletim Focus do Banco Central, em 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 0,48%, mas grandes bancos, como Credit Suisse e Itaú Unibanco, não descartam queda de 0,5%.