Da Veja

Ao comparar a ação militar israelense em Gaza com o Holocausto, o presidente Lula não fomentou apenas uma crise diplomática. Ele também deu um tiro no pé na política interna, tomando para si o protagonismo da agenda negativa, que até então estava toda no colo de seu principal adversário, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Durante boa parte da semana, as suspeitas de que Bolsonaro comandou as articulações para um golpe de Estado perderam espaço no noticiário e no debate público. O desatino verbal de Lula também serviu de combustível para a convocação feita por aliados do capitão para o ato em apoio a ele marcado para este domingo (25), na Avenida Paulista, em São Paulo.

Nas redes sociais, os bolsonaristas exploraram à exaustão a desastrada comparação feita pelo presidente. Entre os dias 18 e 20 de fevereiro, houve 1,56 milhão de menções ao tema, segundo levantamento da Quaest consultoria. Do total, 68% eram de críticas ao presidente, e 32% em defesa dele. O saldo poderia ser pior não fosse o esforço deflagrado pelos governistas, ao perceberem o tamanho do prejuízo, para tentar equilibrar o jogo no universo digital.

Reação no Congresso

A comparação feita por Lula também foi criticada, com diferentes graus de intensidade, por líderes evangélicos, segmento no qual o petista enfrenta forte resistência. Até aliados no Legislativo fizeram ressalvas ao petista.

Conhecido por seu perfil conciliador, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, cobrou de Lula uma retratação por comparar a ação militar de Israel em Gaza ao Holocausto. “Ainda que a reação do governo de Israel (aos atos terroristas do Hamas) venha a ser considerada desproporcional, excessiva, violenta, indiscriminada, não há como estabelecer um comparativo com a perseguição sofrida pelo povo judeu no nazismo”, disse o senador.

O líder do governo na Casa, Jaques Wagner, um dos poucos quadros no PT com coragem para dizer o que pensa ao presidente da República, seguiu caminho parecido. Durante a sessão plenária, Wagner relatou ter dito o seguinte a Lula: ‘Não tiro uma palavra do que vossa excelência disse, a não ser o final’, porque, na minha opinião, não se traz à baila o episódio do Holocausto para nenhuma comparação”.